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Por que economistas contrariam Lula sobre queda dos juros

Preços devem desacelerar, mas não na velocidade e no tempo do presidente. Há muita instabilidade global, cautela interna e gastos pelo caminho

Foi mais um episódio no cabo de guerra sobre os rumos da política monetária brasileira. Nesta segunda-feira (24), em Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a elevada taxa básica de juros definida pelo Banco Central (BC)]. “Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato”, reclamou diante de empresários sobre a maior taxa real em 7 anos no Brasil. Foi uma resposta a Roberto Campos Neto, presidente do BC, que na sexta-feira (21), em Londres, afirmou que “o anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico”, indicando que o patamar irá se manter no curto prazo sob a justificativa cautelosa de controle da inflação.

Como a afirmação do chefe do BC repercutiu entre agentes de mercado já afoitos, o governo de novo se viu em busca da apresentação de uma saída fiscal ainda inexistente para tentar fazer a economia andar com mais velocidade em 2023 para tentar melhorar as oportunidades de emprego aos brasileiros mais pobres.

Mas quem estaria com a razão nessa rusga? Em tese, tanto Lula quanto os economistas do BC. A questão seria timing. Enquanto o governo quer apressar o início da queda – ninguém se atreve a falar em ritmo percentual de redução – para cumprir promessas de campanha com a ajuda da oferta de crédito, o BC prefere bater o pé e esperar um pouco mais. E a direção da instituição possui autonomia para tanto, já que funciona como agência reguladora estatutária independente. E não adianta reclamar.

Mercado afoito

MONEY REPORT consultou dois economistas que se dedicam a analisar curvas de juros e mercado. Ambos garantem que os custo do dinheiro vai cair, mas não quando e como Lula quer – Campos não arrisca previsões. E que o clamor presidencial pode ser prejudicial, já que está apenas apegado ao desempenho da inflação oficial (IPCA) de março, que caiu 0,7%, ficando em 4,6%, abaixo dos 4,75% do teto da meta da inflação.

O resultado é promissor, mas pode ser apenas pontual, analisam Rodrigo de Losso, titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), e Simão Silber, titular da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Ambos acompanham o desempenho dos juros no Brasil e no exterior, por isso pregam cautela.

Para eles, além do imediatismo há complicadores no cenário internacional, com risco de ampliação da guerra na Ucrânia, embargos de petróleo, acirramento da disputa comercial entre China e EUA, hostilidades em Taiwan e alta nos preços dos cereais. A estes pontos são acrescidas a cautela dos investidores no e para com o Brasil e o comportamento classificado de afoito por parte do mercado financeiro.

Fim do ano

Na avaliação de Losso, para baixar os juros, só com perspectivas firmes de queda da inflação, o que parece incerto neste início de ano. Outro ponto é a impossibilidade de aumento das receitas do governo, já que as novas regras fiscais só valerão a partir do ano que vem. “E não há esforço para reduzir gastos”. “Melhor esperar algo mais positivo para 2024”, diz, sem descartar um redução pequena na escalada de preços a partir do último trimestre.

Para Silber, há otimismo demais por parte do governo. “Basta olhar o relatório do FMI”, citando a perspectiva de inflação acima da média nos Estados Unidos. “Faço cálculos e analiso tendências”, disse, justificando sua cautela e concordância com a posição recorrente do BC. “Não dá para decidir se um filme é bom só por uma cena”, afirmou sobre o IPCA de março.

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