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Por que o PIB brasileiro cresceu apenas 1,1% em 2018?

O crescimento de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2018, divulgado nesta quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio em linha com o previsto pelo mercado, mas não deixou de ser decepcionante. No início do ano passado, a expectativa era de crescimento na casa dos 3%, o que acabou não se concretizando ao longo de 2018. Em entrevista a MONEY REPORT, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, fala sobre as razões para o desempenho tímido da economia brasileira e projeta o PIB para 2019. Confira:

O que mais chamou a atenção em relação ao resultado do PIB em 2018?

O próprio resultado em si. Todo mundo imaginava um PIB mais forte em 2018, por volta de 3%, mas os choques que ocorreram ao longo do ano acabaram levando o produto para baixo. Houve decepção para todos os lados. A indústria, por exemplo, tinha uma expectativa positiva e acabou crescendo apenas 0,6% no acumulado do ano, abaixo do crescimento médio do PIB em 2018. Nesse sentido, o componente Argentina atrapalhou muito, especialmente no segundo semestre, por conta da indústria automobilística. Não houve um crescimento espetacular da agropecuária, mas em 2017 o avanço havia sido muito forte, por conta da supersafra.

E do lado da demanda, você destacaria algo?

O consumo das famílias cresceu um pouco, mas ainda ficou abaixo de 2%. Já o consumo do governo teve uma queda esperada, com o ajuste fiscal sendo feito através da regra do Teto de Gastos, e o investimento está crescendo muito moderadamente, na casa dos 3% – tirando o terceiro trimestre, que teve o efeito da incorporação de máquinas e equipamentos das plataformas de petróleo, jogando o número para cima de forma artificial. O investimento se recupera muito lentamente e se concentra em máquinas e equipamentos, com as indústrias saindo da crise e trocando seu maquinário por conta da evolução tecnológica. Voltando ao lado da oferta, a construção continua caindo e ainda não deu nenhum sinal efetivo de recuperação. As exportações e importações não apresentaram nenhuma novidade. A taxa de câmbio ajudou nas exportações, e o crescimento fraco acabou jogando a importação par baixo, o que fez o saldo líquido ter sido positivo.

Quais foram os fatores decisivos para esse resultado decepcionante?

No primeiro trimestre, vimos o cenário internacional começando a mudar, com a possibilidade de a taxa de juros nos EUA subir mais do que se imaginava, colocando o mercado de ativos no mundo inteiro para baixo já em janeiro. Em fevereiro, com a intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro, vimos o fim da discussão sobre a reforma de Previdência no governo Temer. Assistimos em março ao início da guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China. Abril ensaiou uma melhora, mas aí veio a greve dos caminhoneiros em maio e a crise na Argentina. Tivemos a Copa do Mundo em junho e julho, que tirou alguns dias úteis da produção, e por último a eleição, que trouxe muitas incertezas, com dúvidas sobre a viabilidade do Alckmin, receio sobre o que poderia ser um governo Bolsonaro, sem falar no PT, cuja subida nas pesquisas estressou o mercado em agosto e setembro. No fim do ano, o impacto da crise argentina acabou sendo ainda mais forte, prejudicando nossa exportação de automóveis. Olhando o copo meio cheio, podemos constatar que conseguimos crescer mesmo com todos esses choques.

O que podemos projetar para o PIB em 2019?

Algumas incertezas permanecem. A situação da Argentina ainda reverbera, temos alguns países da Europa em desaceleração, a China é uma grande incógnita e os Estados Unidos, apesar de se afastarem da possibilidade de recessão neste ano, ainda geram dúvidas em relação à guerra comercial. Aqui dentro, a grande questão é a reforma da Previdência. Enquanto ela não tiver passado, o governo está paralisado em relação a outras questões. Com isso, quem queria investir pesadamente fica em compasso de espera, e quem vem lá de fora espera mais ainda, pois a incerteza do estrangeiro é maior. Isso deve perdurar durante o primeiro semestre, enquanto não houver uma definição clara em relação à reforma.

Qual é a projeção em termos de números?

Trabalhamos com um cenário-base de crescimento de 2,2% para este ano, desde o segundo semestre de 2018. Esse cenário contempla a aprovação de uma reforma da Previdência consistente, com uma economa em 10 anos na casa dos R$ 700 bilhões, R$ 800 bilhões, nada muito abaixo disso. Não acho que teremos a reforma desejada pelo Guedes, de R$ 1,1 trilhão, mas eu também não consigo ver uma proposta muito fraca, de R$ 400 bilhões, R$ 500 bilhões. Isso significaria uma morte quase prematura do governo, e um crescimento fraco nos próximos anos, pois o mercado teria noção que a próxima gestão seria obrigada a fazer uma nova reforma. Seria inteligente aprovar um texto mais parrudo agora, para evitar que essa discussão volte em pouco tempo. Porém, como estamos falando do Brasil, tudo é possível.

E caso a reforma não seja aprovada?

Neste caso, entraríamos em recessão já em 2019 e continuaríamos em uma situação complicada pelos próximos anos. Seria um cenário catastrófico, replicando o que ocorreu durante o governo Dilma. Não há muita alternativa, temos que partir para uma reforma previdenciária minimamente adequada.

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