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Tensão na Ucrânia é risco inflacionário e geopolítico ao Brasil

Entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Rússia está a Ucrânia, antiga região do império czarista e a mais importante das ex-repúblicas soviéticas. Mas como a agora delicada situação geopolítica na Europa Oriental pode piorar a inflação brasileira? A Ucrânia é desimportante comercialmente e a Rússia, um mercado para as exportações de carne e importação de insumos para adubo. Só que não é isso que importa. O que está em jogo é o produto mais precioso do planeta: energia. Caso sofra sanções por interferir no vizinho – com invasão militar ou não -, a Rússia promete cortar o fornecimento de gás natural aos países europeus em pleno inverno. O resultado seria uma reação em cadeia, com a disparada dos preços internacionais do óleo e do gás. O resultado seria inflação mundo afora, incluindo no Brasil. Afinal, a Rússia é o segundo maior produtor e exportador de petróleo do mundo (9,86 milhões de barris diários em 2020) e membro influente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+). Já o Brasil é o oitavo (quase 3 milhões de barris diários), com grande o que extrai destinado ao mercado interno.

Putin e suas qualidades masculinas

Por ser considerado praticamente um país neutro, uma das maiores economias do mundo e o único a transitar com relativa desenvoltura entre os BRICS (agrupamento de emergentes formado por Brasil, Rússia, ìndia, China e África do Sul) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é pressionado para adotar uma postura diplomática alinhada aos interesses das democracias liberais ocidentais, mas de forma a não inflamar ainda mais a situação. Ou seja, o mundo espera que o Brasil faça o que sempre fez, mantendo relações amistosas com ambos os lados e se apresentando como mediador na hora que for preciso – enquanto vende seus produtos.

Só que o velho e seguro roteiro diplomático começou a desandar com a visitado presidente Jair Bolsonaro (PL) ao mandatário russo Vladimir Putin marcada para fevereiro. “Ele [Putin] é conservador, sim. Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente”, disse Bolsonaro sobre ambos os países.

Combinar com os russos

Menos que ilusão, essa simpatia é uma falácia. As democracias não são simpáticas à Rússia de Putin, que assassina dissidentes no exterior, desrespeita os direitos humanos e fomenta instabilidades. Por isso, não soa bem ao Brasil que Bolsonaro elogie tanto o presidente russo – a ponto de citar suas “qualidades masculinas” durante a Cúpula dos BRICS, em 2020. Ainda mais se quiser ser aceito na OCDE, feito que a pequena Costa Rica conseguiu antes.

O presidente americano Joe Biden não tem grande apreço por Bolsonaro e praticamente nenhum por Putin. Ou seja, em vez de colocar panos quentes e se apresentar claramente neutro, o Brasil prefere o risco do isolamento geopolítico, perdendo a chance de eventualmente ganhar mercados com uma mudança no atual xadrez energético. Pouca gente lembra, mas o país adquiriu status de aliado americano militar extra-Otan – título concedido na gestão de Donald Trump – e, em 2021, recebeu endosso para se tornar um parceiro global da aliança militar. Até manobras terrestres foram realizadas. O país também acaba de assumir um assento temporário no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Pena que o chefe do executivo emita os sinais errados.

Bolsonaro: ” O mundo todo é simpático com a gente [ele e Putin]”

Tanto que o secretário de estado americano, Antony Blinken, conversou com o chanceler Carlos França sobre “prioridades compartilhadas, incluindo a necessidade de uma resposta forte e unida contra novas agressões russas à Ucrânia”. Apesar das cobranças, dificilmente será emitida qualquer reprimenda a Putin. Em 2014, quando os russos anexaram a Crimeia, o governo de Dilma Rousseff se omitiu em relação ao conflito. Mas nem por isso Dilma foi até lá ou disse que o ex-agente da KGB é um sujeito bacana.

Todos essa instabilidade que o governo brasileiro parece ignorar surgiram na esteira da possibilidade de a Ucrânia entrar na Otan, aliança militar liderada pelos EUA. Seria uma forma de afastar a influência pesada do poderoso e dominante vizinho para buscar espaço junto às democracias liberais, mesmo que isso desagrade uma parte da população, que é de sangue russo. Nunca o ditado repetido desde os tempos dos czares, “A Ucrânia é a Rússia”, causou tanta apreensão. Afinal, a região é como uma antepara histórica geográfica aos avanços do Ocidente sobre Moscou. Foi pela Ucrânia – e Belarus – que ao longo dos séculos russos expulsaram suecos, poloneses, franceses, alemães, britânicos e turcos. Cada um destes em pelo menos duas ocasiões. Melhor seria adiar essa visita. Se o risco inflacionário pode ser inevitável, o político pelo menos deveria ser considerado, mesmo Moscou estando a mais 11 mil quilômetros de distância.

(Imagem em destaque: tropas russas próximas à fronteira com a Ucrânia – reprodução)

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