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O Day After: e quando a quarentena acabar?

A pandemia de coronavírus ainda não chegou ao seu auge e a solução para o problema não será encontrada tão cedo. As duas principais perguntas que acometem a todos continuam firmes: A primeira: quarentena total ou lockdown vertical? E a inevitável segunda: como reativar a economia e evitar uma convulsão social?

Médicos, autoridades, banqueiros e empresários estão envolvidos num esquema 24/7 para encontrar respostas rapidamente. Não se pode dizer que estejam parados. O governo abriu suas torneiras e vai jorrar dinheiro público no mercado, enquanto os responsáveis pela saúde avaliam se há condições de tirar a população do atual estado de prisão domiciliar.

Mas, em nossos confinamentos, vivemos dois fenômenos inéditos. A ansiedade, combinada com a disponibilidade total de tempo gerada pela crise, nos transformou em trabalhadores ininterruptos. Estamos todos à disposição de nossos chefes, funcionários, clientes e até dos amigos durante todo o tempo em que estamos acordados. Alguns de nós, até durante o sono.

Por mais que se trabalhe o dia inteiro, através de videoconferência ou de telefonemas, ainda assim a sensação é de tempo sobrando. O dia demora para passar e a ansiedade por maiores informações nos joga numa busca insana nas redes sociais, nos canais jornalísticos de TV e nos portais da internet atrás da evolução da pandemia. Neste processo, procuramos por boas notícias – e, muitas vezes, acabamos nos deparando apenas com as más. É frustrante. Por isso, há quem, neste jogo, acabe se revoltando com os meios de comunicação.

Em tese, a imprensa estaria disseminando o caos de duas formas. Uma seria aconselhar as pessoas a ficar em casa. A outra seria mostrar a evolução dos números relativos à pandemia, que é exponencial e cresce diariamente a taxas que assustam. Há uma razão para os jornalistas defenderem a quarentena horizontal: suas principais fontes de informação são médicos e autoridades de saúde.

São justamente os setores que defendem a quarentena total. Vamos supor que o presidente Jair Bolsonaro, um conhecido antagonista de vários órgãos de comunicação, fosse a favor do isolamento generalizado. Ainda assim, neste cenário hipotético, jornais, portais, revistas e emissoras de TV continuariam do lado do lockdown completo – pois os jornalistas refletem basicamente o que dizem suas fontes. Quanto a divulgar os números diários, isso é atávico à profissão jornalística. Os repórteres têm de mostrar o que está ocorrendo, utilizando números oficiais. Não há nisso nenhuma intenção de semear o pânico nem de provocar uma recessão (vamos lembrar que empresas jornalísticas precisam de receita para sobreviver, assim como qualquer atividade empresarial).

Há um velho adágio jocoso que diz: na vida, tudo é passageiro, menos o motorista e o cobrador. Estamos vivendo uma situação na qual ou estamos dentro do ônibus, aguardando a decisão de quem manda, ou sentados no ponto esperando a condução chegar. Ou seja, para muitos de nós, só nos resta o direito de opinar – mas não o de decidir.

Enquanto as autoridades e aqueles que têm influência sobre as decisões não encontram soluções, o tempo parece sobrar em nossas mãos. Por que não aproveitar a ocasião e refletir sobre o legado de toda essa pandemia?

Como ficarão, por exemplo, as relações humanas daqui para frente? O isolamento baniu o contato físico. Como será quando sairmos de nossas casas? Vamos voltar a apertar as mãos, beijar ou abraçar nossos amigos? E os mais velhos? Como retomar o contato físico sem termos receio de contaminá-los? Vamos lembrar que a quarentena não mata o coronavírus. Ele veio para ficar e trará, como o influenza, rodadas anuais de transmissão, pois sua mutação é apenas uma questão de tempo (a chamada imunização do rebanho, no entanto, reforça os organismos; hoje, a taxa de mortalidade da gripe espanhola é baixa. No início do século 20, no entanto, era bem alta. Foi a imunização que criou anticorpos à humanidade e fez os nossos organismos atuais mais fortes que os dos nossos bisavôs).

Outra questão é: como vamos sair do isolamento? Todos aceitarão o final da quarentena e ganharão as ruas como se nada tivesse acontecido? Há um contingente enorme de pessoas que anseia pela volta da vida da social. Mas, mesmo entre esses indivíduos, existem aqueles que terão medo de se socializar. O que vai acontecer? Os bares e restaurantes vão encher de uma tacada só ou este será um processo que demorará a acontecer?

Mais uma pergunta: como ficará a credibilidade de veículos, redes sociais e até de certas pessoas públicas? Há claramente dois grupos formados na sociedade: os que desejam um shutdown estendido para, como dizem os especialistas, achatar a curva de internações nas UTIs e preservar a integridade do sistema de saúde. Outro grupo, no entanto, premido por motivos diferentes, quer o retorno gradual ao trabalho e, com isso, fazer girar a roda da economia. Se pensarmos bem, os dois lados têm razão, cada um por seus motivos. Mas vamos supor que se chegue à conclusão inquestionável de que a quarentena total é uma má decisão. Como ficará a credibilidade de quem apostou neste caminho? Ou se, ao contrário, fique provado que a quarentena vertical é uma decisão ruim do ponto de vista econômico e de saúde? Quem cravou essa opção para defender terá dificuldades para se explicar, caso isso ocorra.

Supondo que exista uma crise de credibilidade – para um lado ou outro –, como ficam as redes sociais? Estamos falando de um dos maiores vetores de disseminação de fake news da atualidade. Vamos continuar abrindo mais de dez vídeos ou áudios por dia? Vamos nos afastar dessas redes? Só o tempo dirá.

Como lidaremos com o desmame do dinheiro oficial? Vamos viver uma crise de liquidez semelhante à do Plano Collor em 1990. Somente o dinheiro do governo poderá mitigar a recessão que se aproxima. Mas não podemos viver desse dinheiro eternamente. Como fazer para tirar essa eventual dependência da sociedade? Para resolver esta questão, temos um defensor de ideias liberais no Ministério da Economia. Paulo Guedes pregou, durante toda a sua carreira, a diminuição do Estado e a diminuição da interferência do governo na economia. E justamente agora, quando ele é o ministro, há uma necessidade brutal de intervenção do governo na economia, ou a criação de um Plano Marshall tupiniquim. Ou seja, no momento mais crítico do país, que pede a intervenção do Estado, temos um liberal no timão econômico. Não deve estar sendo fácil para o ministro. Mas, para resolver o dilema, há um atenuante: Paulo Guedes, além de ser um economista capaz, está cercado de secretários extremamente competentes.

E o mercado imobiliário, como ficará? O mercado de construção civil estava em plena retomada, empregando muita gente. A cidade de São Paulo, por exemplo, está cheia de terrenos à espera de obras e vários prédios subindo. O que será deles? E aqueles que alugam espaços para escritórios? O Home Office deve trazer mudanças estruturais nas empresas. Muitas delas vão considerar reduzir o tamanho físico de suas operações. Isso poderá provocar uma queda de preços? Talvez.

Uma última provocação: nosso futuro terá mais manifestações de solidariedade ou de intolerância? A percepção de que haverá dificuldades atingindo em cheio os mais necessitados, por exemplo, provocou uma reação imediata: muitos empresários estão oferecendo alimentação a comunidades carentes nos grandes centros urbanos. Um sinal de que as pessoas estão agindo de forma solidária. No campo das ideias, no entanto, a agressividade está produzindo discussões homéricas nas redes sociais. Brigas semelhantes às de 2018 estão aparecendo em torno de quanto deve durar e de como deveria ser a quarentena. Há, assim, igualmente manifestações fortíssimas de intolerância.

Vamos aproveitar o tempo que temos, numa situação de parada súbita que atingiu – de formas diferentes, O.K. – a todos. Ricos e pobres, com exceção de quem trabalha em serviços essenciais, estão em casa. “The devil will find work for idle hands to do”, diz uma canção da banda inglesa The Smiths. Tradução: o diabo vai encontrar trabalho para dar às mãos ociosas. Pois bem, se ficarmos ociosos neste momento, iremos brigar e nos desentender. Quem sabe não é hora de tentarmos refletir e buscar – todos – uma forma de conviver melhor com uma situação tão difícil?

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