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“Juros devem cair para 5,5% até o final do ano”, diz Schwartsman

As principais instituições financeiras do Brasil vêm reduzindo suas projeções para o desempenho da atividade econômica em 2019. Na segunda-feira (13), o boletim Focus do Banco Central diminuiu sua previsão para o crescimento do PIB brasileiro pela 11ª semana seguida. Se o crescimento projetado chegou a ser de 2,57% no início do ano, agora os economistas acreditam que o país vai crescer apenas 1,45% no período. Na quinta (16), o IBC-Br indicou que o produto caiu 0,68% no primeiro trimestre, enquanto o IBGE divulgou que a taxa de desemprego subiu 1,1 ponto percentual entre janeiro e março, para 12,7%, atingindo 13,4 milhões de pessoas. Na opinião do ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman, a situação abre espaço para a autoridade monetária reduzir a taxa básica de juros, atualmente em 6,5% ao ano. Confira a entrevista do economista a MONEY REPORT.

Os dados econômicos do primeiro trimestre têm decepcionado muitos analistas. Por que os números estão abaixo do esperado?

A gente ainda não tem uma visão muito clara. Precisaríamos analisar os dados do PIB de maneira geral, mas existem alguns suspeitos. No que diz respeito à produção industrial, o desastre da Vale em Brumadinho atingiu em cheio o segmento da extração mineral, que foi bem fraco por conta disso. A crise na Argentina é outro fator que complica a vida da indústria, por diminuir as exportações do setor. Também temos alguns sinais de perda de fôlego no consumo, com o varejo ainda positivo, mas em um ritmo cada vez mais fraco. Além disso, os investimentos não dão indícios de reação.

Os efeitos da atividade mais fraca sobre a inflação abrem a possibilidade de o Banco Central diminuir a taxa de juros até o fim do ano?

Eu acho que sim. O próprio BC reconhecia que sua expectativa para o comportamento da economia no começo de 2019 era mais positiva em relação ao que vem ocorrendo. Isso influencia a trajetória da inflação em alguma medida, não só desse ano, mas de 2020 também. Conforme o BC vai reavaliando o cenário, ele começa a colocar os números em seus modelos, que vão indicando uma inflação mais baixa para o futuro. Isso abre espaço para o banco cortar ainda mais os juros.

Como essa redução impactaria no PIB? Mais sobre o consumo ou investimento?

Tenho impressão de que seria mais sobre o consumo. É óbvio que também ajuda o investimento, mas este está travado, em grande parte, por conta das incertezas fiscais. E isso não se resolve sem avançar na reforma da Previdência. O recuo da taxa Selic também pode ter algum impacto positivo sobre as exportações, via depreciação do real frente ao dólar.

O investimento travado também tem a ver com a desconfiança em relação ao governo? Ou a questão fiscal é mais preponderante?

Creio que opera principalmente pelo canal fiscal. Parte do mercado acreditou que um governo recém-eleito teria condições de fazer as reformas, especialmente a previdenciária, com rapidez, mas isso não está acontecendo. Na verdade, estamos vendo um governo perdido em batalhas sem muito sentido, dificultando ainda mais a aprovação de uma reforma no tamanho necessário. Pode até sair alguma coisa, mas o consenso que começa a se forjar é o seguinte: se for aprovada, a economia vai ser bem menor do que se esperava, talvez para metade do previsto pelo governo.

Pensando no cenário atual, com a situação fiscal complicada, o investimento precisa vir da iniciativa privada?

Sim, e não apenas via concessões, mas também via confiança. Quem vai fazer um investimento no Brasil se daqui a 4 ou 5 anos se o governo não tiver avançado no front fiscal? Se o governo não resolver o problema das contas públicas, o investidor vai ter um baita problema.

A aprovação da reforma da Previdência teria impacto significativo no PIB?

Imagino que ajudaria, mas não dá para mensurar a magnitude desse impacto. Se o governo conseguir, por meio da aprovação de uma reforma previdenciária, indicar que vai cuidar da trajetória de endividamento do país, acho que a gente retoma o investimento e cresce mais. Agora, falar em crescimento de quase 3% no ano que vem, por exemplo, me parece um exagero. Alguém até pode fazer essa conta, mas eu não sou obrigado a acreditar nela.

Quais são as outras medidas que poderiam ser tomadas no curto prazo para impulsionar a atividade de maneira sustentável?

Existe uma discussão em torno da liberação adicional do FGTS, que não seria uma má medida. Isso colocaria mais dinheiro na economia.

Quais são suas projeções para PIB, inflação e juros em 2019?

Acredito que o PIB vai fechar o ano com crescimento no intervalo entre 1% e 1,5%. Em relação à Selic, acho que o BC vai reduzir os juros em um ponto percentual, para 5,5% ao ano, mas não haverá tempo para essa mudança afetar o PIB ainda neste ano. Para completar, trabalho com uma inflação em torno de 4,1% no acumulado de 2019.

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