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“Ainda não nos recuperamos do estrago feito pela Nova Matriz Econômica”

Para o economista-chefe do banco UBS, Tony Volpon, o Brasil ainda não se recuperou totalmente dos estragos causados pela “Nova Matriz Econômica”, implementada pelos governos petistas a partir de 2008. Na opinião do analista, os grandes problemas que a economia do país enfrenta estão no lado da oferta (produção de bens e serviços), não da demanda (consumo e investimentos). Para resolvê-los, o governo precisa avançar na agenda microeconômica, promovendo um amplo programa de desburocratização e privatizações – com o objetivo de melhorar o ambiente de negócios e aumentar o crescimento potencial do PIB. Confira:

A desaceleração na economia em 2019 surpreende?

Há uma redução de expectativas em relação à aceleração do crescimento. Nos últimos três anos isso ocorreu. Todos esperavam um avanço maior, mas as expectativas vão caindo ao longo do ano. Parece que isso vai se consolidar em 2019, com um crescimento ao redor de 1%. Em 2017 esperava-se um ambiente mais tranquilo para a aprovação das reformas. No ano passado houve eleição e greve dos caminhoneiros. Neste ano, havia o otimismo com a agenda de reformas anunciada pelo Paulo Guedes (ministro da Economia) e a ‘nova política’ de Jair Bolsonaro. Mas o ambiente político conturbado não ajuda. A incerteza quanto a aprovação das reformas impede que os empresários da ‘economia real’ (que produzem bens e serviços, diferente dos investidores do mercado financeiro) destravem os projetos para investimentos. Esse tipo de investimento depende de um ambiente de mais longo prazo, já que o retorno vem no futuro. Ainda que o mercado acredite na aprovação das reformas, esse sentimento não foi suficiente para os empresários se anteciparem e começarem a investir. Eles estão no modo ‘só acredito vendo’. Somado a isso há o choque externo, com a briga entre Estados Unidos e China, a crise na Argentina e o que aconteceu com a Vale, que afetou a indústria de mineração.

E olhando para frente?

Diria que acreditar em crescimento de 1% em 2019 depende de uma dose de otimismo. A questão é 2020. Se a reforma da Previdência for aprovada, e acho que será, ela, por si só, vai contribuir para os investimentos aumentarem? Acho que não. Por várias razões: a reforma da Previdência é necessária, mas não suficiente, para conter o aumento de gastos públicos. A poupança que o governo anuncia será ao final de 10 anos e não ocorrerá de forma linear. Então, há o desafio no curto prazo de ficar dentro do teto de gastos, que não será simples nos próximos anos.

Mas o grande problema está no crescimento potencial do lado da oferta. E a verdade é que ainda não nos recuperamos do estrago feito desde 2008 com a chamada ‘Nova Matriz Econômica’. A recuperação dos problemas causados nesse período está demorando mais do que se imaginava. Sanar essa questão depende da implantação de uma agenda de reformas microeconômicas que vão melhorar o ambiente de negócios: desburocratização, privatização, aumento de segurança jurídica… e a mudança nessa área só virá com a aprovação e implementação das reformas. A mera expectativa não basta.

O país está em recessão?

Me parece que não.

E em depressão?

Acho essa questão totalmente descabida. Países que passaram por grandes recessões, como na crise global de 2008, viveram fenômeno igual. A recuperação é lenta e leva tempo para retomar o nível pré-crise. A Europa ainda não retomou, por exemplo. O que vemos no Brasil hoje são os efeitos da má alocação de capital do período da ‘Nova Matriz Econômica’, que prejudicou o potencial de crescimento da oferta.

Medidas do governo para impulsionar a demanda teriam alguma utilidade em 2019?

Não há espaço fiscal para incentivos. Usar o FGTS e o PIS/Pasep, por exemplo, poderia ser feito, mas geraria um efeito pequeno no crescimento.

E baixar os juros?

Eu sou reticente quanto a isso. Como disse, o problema está na oferta, não na demanda. Aumentar a demanda pode provocar inflação. E não acho que a inflação esteja tão controlada quanto alguns dizem estar. O núcleo da inflação subiu de 3% para 3,5% do ano passado para cá. Se o chamado ‘hiato do produto’ fosse tão alto (a diferença entre o PIB corrente e o PIB potencial) não haveria esse aumento da inflação. Se, após a aprovação da reforma da Previdência, a economia não reagir, o Banco Central até pode baixar os juros em 0,5 ou 1 ponto percentual. Mas não acho que iria causar grandes mudanças no crescimento, porque, novamente, o problema está do lado da oferta. Então, é preciso ter paciência para aprovar as reformas microeconômicas. Reformas do lado da oferta têm a capacidade de impulsionar a demanda. Mas medidas para impulsionar a demanda não causam o mesmo efeito na oferta.

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