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A pandemia, quem diria, foi discutida em 1965

Sou viciado em ler publicações antigas. Leio absolutamente tudo que tenha mais de 30 anos de história e me cai nas mãos. Ontem à noite, folheando algumas velharias, topei com um artigo de 1965. O título me chamou a atenção: “Gripe, um inimigo subestimado”. O texto, publicado na revista Empire, de autoria do jornalista Don Murray (dono de um prêmio Pulitzer em 1954), versava sobre uma variante da doença que – surpresa! – surgira na China.

“O Dr. Frederick L. Dunn, do Centro de Doenças Notificáveis documentou as viagens deste vírus A2 (ou gripe asiática). Ele apareceu primeiro na China, em fins de fevereiro de 1957. Em abril, atacou Hong Kong, Formosa e Bornéu. Em maio, havia-se propagado à Austrália, à Malásia e à Índia. Em julho assolava o Oriente Médio, tinha atacado a Europa e atravessado o Atlântico. Mas, em dezembro, estava terminada a pandemia. As autoridades médicas declararam que fomos felizes porque essa raça particular de vírus era “benigna” e a vacinação contra ela foi notavelmente eficaz”, escreveu Murray.

Tirando a baixa letalidade desta pandemia dos anos 1950, percebe-se muitas semelhanças na rapidez com a qual o vírus se expandiu naquele momento, especialmente se levarmos em conta que naquela época o meio de transporte mais popular entre países era o carro ou o barco – e não o avião, como hoje.

O texto também faz menção ao surto de Influenza do início do século 20, abrindo uma discussão atualíssima – a possibilidade que outra pandemia desta magnitude pudesse ocorrer no futuro. Vejam o que Murray redigiu: “Pode ocorrer novamente a pandemia de 1918, da qual ainda se lembram todas as pessoas com mais de 55 anos? Poucas famílias escaparam do flagelo. Durante os dois meses críticos da gripe espanhola, apenas na cidade do Rio de Janeiro a média de mortos era de 1 000 pessoas por dia. No mundo todo, sucumbiram mais de 21 milhões de pessoas. O vírus, que segundo se acredita causou a pandemia, ainda vive em certos porcos e supõe-se que pode ressurgir e infectar pessoas novamente. Os que sobreviveram à epidemia de 1918 dispõem de imunidade na corrente sanguínea, mas os que nasceram depois desta data podem não ter essa resistência”.

Percebe-se, nesses números, que a Influenza foi bem mais letal que a pandemia gerada pelo coronavírus. A cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo para ilustrar o grau de letalidade do vírus do início do século 20. A capital fluminense, em 1918, tinha 910 710 habitantes. Desses, morreram cerca de 15 000 pessoas, enquanto 600 000 adoeceram. Isso significa que a gripe espanhola infectou dois terços da população local.

Em números de hoje, o estrago teria sido fenomenal. No Rio, habitam 6,3 milhões de pessoas. Se houvesse um contágio semelhante ao de 1918, 4,14 milhões seriam infectados – e teríamos 103 000 vítimas somente neste município. A título de comparação, de março a agosto foram cerca 16 000 mortos em terras cariocas.

No final da década de 1910, ao contrário das perspectivas de hoje, não havia nenhuma probabilidade de se criar rapidamente uma vacina. Assim, a chamada imunização do rebanho era a única saída.

Com o avanço da medicina, contudo, é possível esperar por uma solução, especialmente quando se pode trabalhar de casa, em regime de Home Office, e usar o e-commerce para abastecer a despensa. Muitos dos que estão no grupo de risco não se aventuram a sair de suas residências e aguardam a chance de se imunizar sem riscos à saúde.

O artigo de Don Murray é parente do vídeo de Bill Gates, gravado anos atrás, no qual o fundador da Microsoft também alerta para o risco de uma pandemia. São avisos que deveriam deixar a sociedade em estado de vigilância, mas têm pouco efeito prático, uma vez que vacinas e medicamentos só podem ser produzidos a partir de uma só matéria-prima: o microrganismo que cria a doença. Ou seja, são alertas para que as autoridades ajam rapidamente para tentar coibir a expansão da contaminação, algo que foi totalmente ignorado no caso do coronavírus. Infelizmente, esse parece ser o típico caso em que se coloca um cadeado no portão após o assalto.

A esperança é que todos os governos, daqui para frente, consigam agir com presteza e rapidez ao menor sintoma de epidemia. Afinal, este processo feriu quase mortalmente a economia mundial. E, como diria o ex-ministro Delfim Netto, a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Se até o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, quer discutir a de reabertura de economias e fronteiras com os países do G-20, é sinal de que mesmo autoridades sanitárias desejam uma injeção rápida de ânimo nos negócios. “Isso é algo que a OMS apoia completamente”, disse Ghebreyesus anteontem. “Quarentenas são um instrumento pesado, que causaram grandes prejuízos em muitos países”.

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