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Médico austríaco que batizou Asperger “cooperou ativamente” com nazistas, aponta estudo

VIENA (Reuters) – Hans Asperger, o pediatra austríaco pioneiro na pesquisa sobre autismo que deu nome à Síndrome de Asperger, “cooperou ativamente” com um programa nazista que levou à morte de crianças com deficiência, diz um estudo acadêmico publicado nesta quinta-feira.

O artigo do historiador médico Herwig Czech divulgado no periódico científico Molecular Autism afirma que Asperger encaminhou várias crianças com deficiências graves à notória clínica Am Spiegelgrund de Viena, onde quase 800 crianças morreram vitimadas pelo programa nazista — muitas delas por injeções letais ou uso de gás.

Depois de analisar documentos de arquivo, inclusive os arquivos pessoais e registros de pacientes de Asperger, Czech descobriu que, embora Asperger não tenha se filiado ao partido nazista, se uniu a grupos filiados e “legitimou publicamente diretrizes de higiene racial”, incluindo a esterilização forçada.

“Asperger conseguiu se acomodar ao regime nazista e foi recompensado por suas afirmações de lealdade com oportunidades na carreira”, disse o artigo.

Mas o estudo acrescenta que nada leva a crer que o trabalho de Asperger sobre o autismo tenha sido afetado. Ele descreveu um grupo de crianças com a condição como “psicopatas autistas” pela primeira vez em 1938. A Síndrome de Asperger, uma forma branda de autismo que permite que os afetados tenham um desempenho relativamente alto, foi batizada em sua homenagem mais tarde.

A faculdade de medicina de Viena passou por um expurgo e suas fileiras ficaram repletas de ideólogos nazistas depois que o país foi anexado pela Alemanha de Hitler em 1938.

O estudo afirmou que, após a anexação, Asperger tentou provar sua lealdade ao regime nazista, fazendo palestras públicas nas quais declarou sua obediência a elementos centrais da medicina nazista, como a “higiene racial”. Ele também despachava relatórios com a saudação “Heil Hitler”.

Seu envolvimento no programa de “eutanásia” infantil dos nazistas incluiu sua participação em uma comissão que avaliou mais de 200 pacientes em um lar de crianças com deficiência mental, disse o estudo. Destes, 35 foram considerados “ineducáveis” e enviados para a morte em Spiegelgrund, onde de fato pereceram, acrescentou.

“O programa (de eutanásia infantil) serviu ao objetivo nazista de projetar eugenicamente uma sociedade geneticamente ‘pura’ por meio da ‘higiene racial’ e da eliminação de vidas consideradas um ‘fardo’ e ‘indignas da vida'”, informaram os autores do estudo em um comunicado.

(Por François Murphy)

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