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Urnas eletrônicas: só existem hackers de esquerda?

Como ainda faltam dez dias para a eleição, a discussão sobre as urnas eletrônicas ainda persiste nesta semana, até porque hoje, em tese, termina o prazo dado pelo ministro Alexandre de Moraes para que o ministério de Defesa apresentasse os resultados de sua auditoria no processo eleitoral. Mesmo assim, a versão de que a eleição é manipulável deve persistir mesmo com a vitória de Jair Bolsonaro (os teóricos da conspiração, nesse caso, vão dizer que os números do vencedor foram maiores – ou que ele já teria vencido no primeiro turno e foi roubado).

Há todo o tipo de teoria conspiratória: as urnas já chegam pré-programadas às seções eleitorais; ao final da votação, seu conteúdo original é apagado e substituído por números que favorecem o PT; ou que, durante a consolidação dos votos nacionais, os números são adulterados (sempre em favor da esquerda). Bem, nas duas primeiras alternativas, seria necessário um verdadeiro exército de gente para que a mudança nas urnas tivesse algum efeito na votação nacional, pois as urnas não estão conectadas à internet. Diante de tantas pessoas envolvidas no processo, portanto, o sigilo iria para o espaço. No caso da última possibilidade, há dezenas de pessoas na sala onde as votações são compiladas. Qualquer tentativa de mudança seria facilmente percebida pelos fiscais do partido prejudicado ou pelos demais observadores.

Diante de todas essas elocubrações, é o caso de se pensar: só existe hacker de esquerda neste país? Todas as mentes do mal que podem manipular máquinas eleitorais estão apenas a serviço do PT? Se entrar no sistema eleitoral é tão fácil, não há nenhum invasor de direita? Ou seja, os direitistas são grandes mestres dominadores das redes sociais — uma tarefa essencialmente tecnológica. Mas, quando se trata de entrar em um sistema eleitoral, nenhum pirata de direita se habilitaria a entrar nos servidores e manipular os votos. Esse raciocínio faria sentido?

Vamos retroceder um pouco no tempo.

Em 1982, a eleição para governador do Rio começara com uma disputa aberta entre Sandra Cavalcanti e Miro Teixeira. Mais tarde, esses dois seriam ultrapassados por Moreira Franco e Leonel Brizola (imagem). Já contei essa história aqui, mas vou repeti-la: os partidários de Moreira começaram a grafitar os muros cariocas com a frase: “Nem Miro, nem Sandra”. Esse mote alavancou a candidatura do então prefeito de Niterói. A equipe de Brizola, então, aproveitou o grafite que mencionava os candidatos nos muros e emendou: “Para ser Franco, nem Moreira”.

Naquela apuração, ao contrário das demais, a contagem dos votos não seria mais feita pela companhia estatal de processamento de dados e sim por uma empresa privada chamada Proconsult, que tinha sido contratada para fraudar o resultado e colocar Moreira Franco, alinhado com o regime militar, no Palácio Guanabara.

A votação ainda era em papel e o esquema tinha duas etapas. Um percentual de cédulas em branco era preenchido com o nome do candidato do PDS (que dava o suporte ao governo federal no Congresso) e – na consolidação – um determinado número de votos de Brizola eram declarados nulos no sistema.

É aí que entra em campo o Jornal do Brasil e sua rádio JB.

A TV Globo usava os dados do Tribunal Regional Eleitoral, compilados pela Proconsult. A rádio JB, por sua vez, colocou gente em todas as seções de apuração e obteve os números antes que eles entrassem no sistema. Só utilizavam os dados do TRE relativos a senadores e deputados. Rapidamente, os editores do Jornal do Brasil perceberam que havia uma diferença entre os dados da apuração em papel e os divulgados pela Proconsult — e começaram a falar sobre isso nos microfones da emissora.

Com a denúncia do Jornal do Brasil, uma investigação foi aberta e o esquema foi rapidamente desbaratado (mais tarde, em uma investigação, um dos chefes do esquema disse que tinham programado um “diferencial delta” que iria minguar o número de votos de Brizola e elevar a votação de Moreira).

Como se pode ver, o sistema de votação analógica é bastante frágil (oposicionistas da época disseram que um esquema parecido tirou as vitórias de Pedro Simon, no Rio Grande do Sul, e de Marcos Freire em Pernambuco, mas nada foi provado). E os hackers de antigamente eram de direita.

Por isso, permanece a dúvida: por que só pode existir uma maracutaia eleitoral que favoreça o PT? Só existem hackers de esquerda?

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