A Imagem da Semana escolhida por MONEY REPORT não é apenas poderosa – é explosiva e constrangedora. Registrada no Salão Oval da Casa Branca, mostra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lado a lado com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Ambos estão diante de uma televisão ligada, exibindo vídeos que, segundo Trump, comprovariam um suposto “genocídio branco” em território sul-africano.
O presidente Trump acaba de confrontar diretamente o presidente da África do Sul com vídeos de seu governo pedindo genocídio dos brancos e fazendeiros:
— Brasil Paralelo (@brasilparalelo) May 21, 2025
"Apague as luzes e assista o vídeo! Estes são locais de sepultamento cruzes marcando fazendeiros brancos assassinados" pic.twitter.com/cycnItK3NA
Do protocolo ao constrangimento
O que começou como uma reunião protocolar — com elogios a golfistas sul-africanos e conversas sobre comércio e minerais estratégicos — rapidamente se mostrou uma armadilha. Em sua habitual teatralidade grosseria, Trump interrompeu a coletiva para exibir vídeos editados com discursos violentos e imagens de crimes, afirmando que a minoria branca sul-africana sofre perseguição sistemática. Logo este grupo, que impôs o regime de apartheid entre 1948 e 1994.
Visivelmente constrangido, Ramaphosa assistiu em silêncio antes de rebater: “Gostaria de saber onde fica isso, porque nunca vi esses vídeos.” Seu tom conciliador contrastava com a postura combativa de Trump, que insistia em promover uma retórica apoiada por Elon Musk — presente na reunião — e pelo crescente movimento de acolhimento de alegados refugiados brancos sul-africanos nos EUA. Um grupo de dezenas de agricultores que alegam perseguição étnica.
Um encontro, muitas camadas
O gesto de Trump tem múltiplas camadas. Internamente, agrada sua base conservadora e parte da extrema-direita americana, sensível a temas fantasiosos, como “discriminação reversa” e direitos da minoria branca. Internacionalmente, trata-se de um gesto de ruptura: os EUA cancelaram ajuda à África do Sul, expulsaram seu embaixador e, em fevereiro, promulgaram um decreto que facilita a concessão de asilo a sul-africanos brancos.
A acusação de genocídio, no entanto, não encontra sustentação em dados oficiais. Estatísticas da própria África do Sul indicam que a maioria das vítimas de crimes violentos no país é negra e apenas uma minoria dos assassinatos em áreas rurais tem como alvo fazendeiros brancos.
Interesses econômicos em risco
As implicações econômicas são severas. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial da África do Sul, atrás apenas da China. Os cortes na assistência, incluindo verbas para tratamento de HIV, já afetam setores sensíveis da população sul-africana.
A imagem da semana, portanto, vai além do momento capturado. Representa o início de uma nova fase na relação entre dois países que, até então, mantinham um diálogo diplomático produtivo, embora nem sempre harmonioso.
A guerra das narrativas
Ramaphosa afirmou que os vídeos exibidos por Trump retratam posturas de grupos radicais minoritários e não refletem a política de seu governo (e nem de desde o fim da segregação). “Temos uma democracia multipartidária que permite a livre expressão, inclusive de ideias com as quais discordamos”, disse. Já Trump, em sua linha habitual de desinformação estratégica, parece disposto a transformar um ponto crítico da política interna sul-africana — a reforma agrária — em combustível eleitoral para 2026.
Ao lado de Elon Musk, que repetidamente afirma que a África do Sul “não permite empresas de tecnologia lideradas por brancos”, Trump reforça uma narrativa de perseguição que tem pouca base factual, mas grande apelo emocional.