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Redes sociais se movimentam conforme os humores de Bolsonaro

Um amigo empresário diz que, no Brasil, o período de uma semana pode ser considerado longo prazo, tamanha é a montanha russa político-econômica que enfrentamos diariamente. Porém, desde que a pandemia do coronavírus começou, o ritmo frenético de desavenças e viradas de mesa deixou até no observador mais calejado um certo ar de perplexidade. As redes sociais refletiram diretamente esse movimento pendular, em grande parte motivado pelas mudanças de humor ou do temperamento impulsivo do presidente Jair Bolsonaro.

Até o dia 24 de abril, por exemplo, o ministro Sergio Moro foi aplaudido sem pausas pela claque bolsonarista nas redes. No dia 23 de abril, a Folha de S. Paulo noticiou que Moro iria pedir demissão do governo. Houve uma enxurrada de posts desautorizando a reportagem do jornal, taxando-a de fake news. Moro foi ainda endeusado por algumas horas, até anunciar sua saída do governo em grande estilo, com direito a acusar o presidente de tentar interferir politicamente em sua pasta.

Passado o susto inicial, militantes foram à luta no WhatsApp, Facebook, Twitter e Instagram. Moro foi bombardeado violentamente. No mar de vitupérios, a intenção era indispô-lo com o eleitorado evangélico, acusando-o de ser favorável ao aborto. De uma hora para outra, toda a ficha de trabalhos do ex-ministro em prol do combate à corrupção no país foi esquecida pelos militantes digitais, que se jogaram de cabeça num processo de desconstrução de imagem que dura até hoje.

Outro exemplo pode ser dado no campo jornalístico, envolvendo o canal de notícias CNN. Visto até recentemente com simpatia pelos governistas, o canal foi escolhido por Jair Bolsonaro para dar uma entrevista bombástica, na qual espinafrava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. E havia nas redes sociais uma boa vontade com a CNN, que se apresentava como uma alternativa à Globo News, pertencente a um grupo que é criticado por governistas.

Ocorre que, na sexta-feira (8), a secretária de Cultura, Regina Duarte, deu uma entrevista ao canal que terminou de maneira inusitada. Confrontada com um vídeo da atriz Maitê Proença, que fazia críticas à atuação de Regina à frente da secretaria, houve confusão. Regina teve uma reação explosiva e a entrevista foi encerrada. A reação nas redes sociais foi quase que imediata. E a hashtag CNNLixo (uma adaptação da já célebre GloboLixo) foi para o topo da lista dos trending topics do Twitter no Brasil.

O combate à corrupção e o achincalhe sistemático feito a políticos também sumiu da pauta digital, à medida em que o governo se aproximava do Centrão e distribuía cargos que, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, vai fazer o grupo político controlar verbas no montante de R$ 78 bilhões.

A tentativa de assassinato de reputações é estendida a ex-aliados e a ex-ministros. A deputada Joice Hasselmann é um dos alvos favoritos, recebendo ataques até de cunho pessoal. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta é outro que também recebe impropérios digitais diariamente.

Essa disposição para duelar no palanques digitais cria uma espécie de batalha de hashtags. Há dois exemplos que ocorreram ainda ontem (8).

O primeiro foi uma iniciativa do Movimento Brasil Livre, que enxerga no comportamento de militantes bolsonaristas o mesmo padrão visto nos petistas enquanto estavam no governo. Daí surgiu a hashtag “Direita contra Bolsopetismo”. A resposta veio rápido: a frase “Direita com Bolsonaro” começou a galgar posições até alcançar a segunda colocação no ranking.

O segundo exemplo é uma hashtag com o dizeres “CNN Lixo”, que chegou a ficar no topo de citações por conta da entrevista da secretária de Cultura. A reposta foi a frase “Regina Fascista”, que também foi alçada ao primeiro lugar.

Enquanto as pessoas ficam brincando de polícia e ladrão na internet, passamos pela maior crise econômica que o país já enfrentou. As montadoras de automóveis tiveram, por exemplo, sua pior produção desde 1956, quando se iniciou a fabricação de veículos no país. O número de mortos pelo coronavírus beirou a marca de 10 000 vítimas. Numa hora em que a sociedade deveria se unir em prol de encontrar uma solução para o maior desafio dos tempos modernos, perdemos tempos e recursos com essa batalha digital. Isso é inacreditável.

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