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Qual a lógica em brigar com Maia e fazer acordo com o Centrão?

Desde o início do ano, a temperatura entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, subiu. O termostato, que na comunicação entre os dois nunca registrou números baixos, explodiu de vez. No dia 16 de abril, por exemplo, Bolsonaro deu a seguinte declaração à rede CNN: “O Brasil não merece a atuação dele dentro da Câmara. Não é o Parlamento brasileiro, é a atuação dele. Rodrigo Maia, péssima a sua atuação. Quando você fala em diálogo, a gente sabe qual é o teu diálogo, então esse tipo de diálogo não vai ter comigo”, afirmou o presidente.

Nessas afirmações contundentes, o presidente insinuou que Maia estivesse atrás de vantagens indevidas para colaborar com o governo. Isso fica bem claro na passagem em que o mandatário fala que sabe o tipo de diálogo o presidente da Câmara deseja e refuta qualquer aceno nesse sentido.

Corria o mês de abril e Sergio Moro – talvez o maior símbolo de caça aos políticos corruptos – ainda estava aboletado no Ministério da Justiça. O desabafo do presidente, assim, tinha total sintonia com a presença do ex-juiz em seu escrete de ministros.

Passadas duas semanas, no entanto, só uma coisa permanece igual – a disposição de brigar com Rodrigo Maia. De lá para cá, Moro saiu do Ministério, acusando o governo de não dar mais prioridade ao combate à corrupção e o presidente de tentar interferir politicamente no cotidiano da Polícia Federal. Além disso, Bolsonaro se aproximou do Centrão, o grupo de parlamentares mais ligado ao fisiologismo político, oferecendo cargos aos seus integrantes.

A lógica do Executivo é reconstruir uma base partidária no Congresso, que foi dizimada, diga-se, quando o próprio Bolsonaro resolveu romper com o PSL, o partido pelo qual foi eleito. Além disso, brigou com dois campeões de voto da agremiação – a deputada federal Joice Hasselmann e o senador Major Olímpio, ambos bolsonaristas de primeira hora.

Entende-se que o governo precise de uma base parlamentar. Igualmente é compreensível que o presidente tenha o direito de discordar dos caminhos tomados por seu partido e deseje sair de seus quadros. Também é possível perceber o raciocínio que está por trás de seus desentendimentos com Rodrigo Maia.

O que não dá para entender é brigar com Maia, acusando-o de fisiologismo e, depois, se unir a um grupo político com interesses explícitos em cargos públicos e acesso a verbas do governo federal. É como brigar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por estar à frente de uma agremiação esquerdista e, após isso, aliar-se ao PSOL e ao PC do B.

A única explicação para esse comportamento está na competitividade exagerada. Assim, vencer a briga seria mais importante que a razão pela qual a pendenga começou. Ou seja, o desentendimento com Maia surgiu da desconfiança da lisura do presidente da Câmara. Mas, tempos depois, os parceiros políticos do Executivo passam a ser Roberto Jefferson e Valdemar da Costa Neto. Não importaria o fato de esses dois políticos terem sido envolvidos em processos jurídicos, com acusação comprovada de propina, durante o chamado Mensalão. O importante seria derrotar Rodrigo Maia, com quem o presidente brigou porque suspeita que ele é… corrupto (mas até agora, não mostrou provas de que isso seja verdade).

A aproximação de Bolsonaro com o Centrão, contudo, deve ser vista com cautela.

As origens do grupo remontam à ditadura militar. Esses políticos, nessa época, estavam abrigados em uma ala informal à esquerda da Arena (o partido do governo) e à direita do MDB (a única oposição nesses tempos de bipartidarismo). Depois, muitos deles se reuniram em torno do Partido da Frente Liberal, que se transformou em DEM. O chamado Centrão, porém, não ficou circunscrito a esta sigla. Cresceu e hoje congrega mais de 200 deputados, numa união suprapartidária.

Quando analisamos o comportamento desses congressistas, encontramos dois padrões que se repetem.

O primeiro é o apetite por cargos e verbas.

O segundo é a capacidade que esses políticos têm de trair os governos nos quais mamam quando percebem uma mudança nos ventos do Poder.

Vejamos o que ocorreu ao final do governo Figueiredo, no apagar das luzes da ditadura. As eleições ainda era indiretas e um novo presidente seria escolhido pelo Congresso ao final de 1984. Dois candidatos se apresentaram: o da situação, Paulo Maluf, e da oposição, Tancredo Neves. Os líderes do que seria o Centrão da época formaram, dentro do PDS (sucedâneo da Arena) a Frente Liberal, que votou em peso em Tancredo. Mais tarde, formariam o PFL.

Durante o governo Collor, novamente os representantes do Centrão abandonaram o barco quando perceberam que o apoio do presidente no Congresso tinha se diluído. Resultado: muitos votaram pelo impeachment daquele que apoiavam algum tempo antes.

O Centrão também fez parte do grupo que apoiaria Dilma Rousseff. Vários de seus participantes votaram sem dó pelo impeachment da então mandatária. Aliás, a base de Dilma estava tão pulverizada que não conseguiu produzir nem 171 votos necessários para barrar o processo de impedimento. Isso significa exatamente um terço dos deputados federais.

A relação entre esse contingente e o Executivo funcionou apenas quando o ocupante do terceiro andar do Palácio do Planalto era alguém com paciência, jogo de cintura e vocação para o toma-lá-dá-cá político, como José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Michel Temer. Mesmo assim, esses presidentes sofreram alguns perrengues ao longo do caminho (sendo que Lula levou o fisiologismo ao um nível inédito ao criar mesadas aos parlamentares, que, reveladas, formariam o escândalo do Mensalão).

Ao rever este histórico de negociatas e traições do Centrão, com que tipo de presidente Jair Bolsonaro se parece mais? Com Sarney, FHC, Lula e Temer?

Ou com Collor e Dilma?

Pois é. Confiar no Centrão é uma aposta política arriscada. E perigosíssima.

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