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Os brasileiros começam a entrar no modo autocensura

Pesquisa realizada pelo Instituto Sivis, baseado em Curitiba, mostra que 23 % dos brasileiros preferem não opinar sobre temas políticos quando estão com a família. O mesmo percentual de indivíduos também permanece calado quando existe discussão sobre política no trabalho e 25 % se calam sobre o tema em redes sociais. Em conversa com amigos, o índice é um pouco menor: 22 % não emitem opiniões políticas quando conversam com amigos.

Isso significa que um entre quatro brasileiros guarda suas convicções para si e desistiu de conversar com os outros sobre o cenário político. Há pessoas que naturalmente evitam confrontos e agem assim desde a infância. Mas muitas simplesmente desistiram de debater em ambientes privados ou digitais, especialmente de 2018 para cá.

A explicação? A intransigência dos interlocutores. E, neste caso, a intolerância não está apenas de um lado do espectro ideológico. A falta de respeito em relação à opinião alheia é algo que pode existir dentro de qualquer pessoa – não importa se de direita ou de esquerda. Mas, curiosamente, essa inflexibilidade surge muitas vezes sob a desculpa de se defender a democracia. Ou seja, defendemos o direito de todos se manifestarem através da cassação da palavra daqueles que discordam de nós. Faz sentido?

Obviamente, não faz o menor sentido.

Ocorre que a intolerância não se manifesta de forma racional e fria. Geralmente, os intransigentes sempre se manifestam com uma agressividade fora do comum – e frequentemente acabam atacando os interlocutores distorcendo as palavras alheias ou diminuindo os debatedores.

Bater abaixo da cintura é um esporte praticado por muita gente no Brasil. E a política tem o poder de tirar as pessoas de seu prumo. Muitos ficam tão agitados em uma discussão deste tipo que esquecem estar falando com pessoas próximas. O rancor toma conta rapidamente da mente e faz esses indivíduos dizerem coisas que passam do ponto.

Talvez essa seja uma das razões pelas quais há tanta gente evitando os confrontos: seria uma forma de preservar os mais próximos e manter as relações intactas. Será? Segurar opiniões é como varrer a poeira para debaixo do tapete. Depois de um tempo, haverá um calombo de sujeira, que estará à vista de todos.

Mas estamos no país do oito ou do oitenta. Aqui, cancelamos a lei que regulava o consumo máximo de álcool no trânsito (um teor abaixo do permitido nos EStados Unidos) – e promulgamos outra regra proibindo integralmente o consumo de bebidas alcóolicas. Alguns brasileiros tiveram, nos anos 1940, um problema de vício em relação ao jogo? Então, os cassinos foram fechados por decreto. Em São Paulo, havia muitos outdoors clandestinos? A solução, em vez de proibir aqueles que eram ilegais, foi acabar com todos os outdoors.

Da mesma forma, há bastante gente que desistiu de falar e ouve calada frases com as quais discorda frontalmente. O problema é que isso pode até preservar relações com familiares no curto prazo. Mas pode ser uma bomba de efeito retardado que, quando explodir, fará muitas vítimas.

Se essa tendência aumentar, vamos testemunhar o fim do diálogo – pelo menos em relação aos temas políticos. Com o encerramento dos debates, iremos regredir como seres humanos, cada um de nós encastelados em nosso canto, guardando nossas opiniões como se fossem tesouros.

Sem discussão, porém, não há evolução.

Talvez exista uma terceira via, na qual as pessoas possam discutir sem agressividade, usando apenas argumentos racionais. Você consegue? Eu tento me controlar nessas horas – mas confesso que nem sempre tenho sucesso nesta empreitada. De qualquer forma, para obter o sucesso em qualquer tarefa, é preciso dar o primeiro passo e tentar.

Quem se habilita?

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