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O que dizem os empresários sobre Bolsonaro (contra e a favor)

Talvez Jair Bolsonaro seja o presidente mais comentado da história política brasileira. A simples menção de seu nome em reuniões de amigos provoca frisson – pois fatalmente haverá lados opostos que podem iniciar uma discussão interminável. Essa polarização, ao contrário do que possa parecer, não atinge somente aquelas amizades entre pessoas de esquerda e de direita. Hoje, chegou aos membros da classe média que acreditam no capitalismo e também ao empresariado.

Entre os empresários que apoiam Bolsonaro há dois grupos. O primeiro é composto de pessoas que acreditam fervorosamente no presidente e comungam de seus preceitos. Estes eleitores são bastante compreensivos com as contradições entre o discurso de campanha e a realidade do mandato e explicam com presteza as razões que fizeram o governo mudar de rumo – ou certas atitudes questionadas pelos analistas da cena política, como o atraso na compra das vacinas. A segunda categoria de apoiadores é composta pelos empresários que não apostam em uma terceira via e enxergam em Bolsonaro um mal menor se comparado à volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto. Eles, no entanto, não têm a mesma desenvoltura do primeiro grupo – alguns até ficam um tanto constrangidos de afirmar que votarão em Bolsonaro no ano que vem.

Já entre os membros do empresariado que rejeitam o presidente, os motivos de desaprovação começam pela agenda econômica. Neste caso, os mais incomodados são liberais que acreditaram no que dizia Paulo Guedes durante a campanha política – um discurso reverberado até pelo então candidato (ao participar do programa Roda Viva, quando lhe perguntaram qual seria o seu maior sonho, Bolsonaro respondeu: “Fazer do Brasil uma nação liberal”).

Até agora, no entanto, há apenas as promessas de privatização dos Correios e da Eletrobras e um pacote fiscal que começou com um aumento na carga tributária somada na combinação entre pessoa física e pessoa jurídica. Além disso, desde o início de 2019 nenhum esforço foi empreendido para reduzir o tamanho do estado brasileiro. O ex-secretário Salim Mattar até tentou, mas não conseguiu contrariar a máquina que defende os interesses do estatismo em Brasília.

Mas talvez o descolamento das promessas liberais seja o menor dos problemas.

Durante a pandemia, o discurso negacionista deixou desconfortáveis muitos empresários. Estamos falando de pessoas que estavam preocupadas com o nível de atividade econômica, mas ao mesmo tempo apoiavam medidas de isolamento social, o uso de máscaras e a vacinação maciça. Com a habitual verve agressiva, Bolsonaro colocou-se em uma posição antagônica em relação a essa massa de eleitores.

Pode-se creditar essa postura a uma espécie de decepção com o candidato. No afã de encontrar um nome que pudesse derrotar o PT, muitos idealizaram Jair Bolsonaro ou deixaram de enxergar suas características mais que visíveis – como a agressividade natural, disposição para achincalhar aqueles que não concordam com ele e um certo desprezo pelo chamado mundo intelectual (ou das artes).

Esses ex-eleitores também se dividem em dois subgrupos.

Um deles não quer votar nem em Bolsonaro nem em Lula. Se depender desses indivíduos, haverá torcida para um candidato de terceira via no segundo turno. E caso não haja? Neste final de semana, presenciei exatamente uma conversa entre dois empresários sobre o presidente. Um contra e outro a favor. O que era a favor perguntou: “Mas e se tiver um segundo turno com Lula?”. O outro não hesitou: “Então, não votarei em ninguém””.

Mas existem inclusive aqueles que preferem Lula a Bolsonaro – mesmo com todas as acusações que pesam contra o Partido dos Trabalhadores. São empresários que têm boas recordações do período entre 2003 e 2010, apesar do Mensalão e da gestão de Dilma Rousseff, que veio depois.

Com a polarização, os eleitores deixaram de fazer análises racionais sobre o nosso futuro político. A maioria das pessoas, assim, passou simplesmente a torcer para que o seu cenário de sonhos venham a vencer. Com isso, perdemos a civilidade na hora de discutir e corremos o risco de viver sob uma agressividade contínua, pois todos acham que têm razão.

Uma coisa, no entanto, é indiscutível: há um naco bastante considerável de eleitores que não votará novamente em Jair Bolsonaro, tanto da classe média como da classe alta. Trata-se de um número razoável de sufrágios que ajudaram na vitória de 2018. Como retomar, então, a dianteira em 2022?

A reposta, paradoxalmente, está nos eleitores do PT de 2006 a 2018. Uma parte razoável destes eleitores votou em Lula e em seus candidatos por conta do Bolsa Família – uma iniciativa que gerou uma massa gigante de votos, especialmente no Nordeste. Com a repaginação deste projeto – e especialmente uma elevação da média de pagamentos, de R$ 192 para R$ 400 –, é de se esperar que uma parte (ainda não se sabe quanto) dessa votação migre para o governo.

Trata-se de mais uma contradição entre o que pregava o candidato e o que faz o presidente Bolsonaro.

Em 2017, o então pré-candidato disse: “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família. Então, vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia”. Antes disso, ainda deputado, ele discursou na Câmara: “É um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda e mantenha quem está no poder. E nós devemos colocar, se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família”.

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