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O que as eleições municipais ensinam

Os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, tiveram votações tímidas. Celso Russomano, mais uma vez, derreteu e chegou em quarto lugar. Marcelo Crivella, por sua vez, cruza a linha de chegada na vice-liderança, mas bem atrás de Eduardo Paes. Isso ocorre na semana em que a popularidade de Bolsonaro caiu em ambas cidades e na qual ele fez várias declarações polêmicas.

A culpa deste fracasso é de Bolsonaro? Uma parte é. Com a rejeição ao presidente subindo, seus candidatos tiveram dificuldade para crescer na reta final. Mas não se pode creditar o revés apenas ao mandatário.

Russomano é tricampeão no torneio de derretimento eleitoral em São Paulo. Com o apoio do presidente ou não, sua campanha sofreu dos mesmos males de sempre: falta de consistência nos debates e frases infelizes ditas no meio da corrida pelos votos. Portanto, era bola cantada que iria ser ultrapassado em algum momento nos derradeiros dias que antecediam o pleito desde outubro, quando o deputado federal desabou de 29 % das intenções de votos para o patamar de 20 %. A queda foi tão violenta que por pouco ele não perde o quarto posto entre os mais votados para o novato Arthur do Val.

Já Crivella enfrenta um nível alto de reprovação em relação ao seu mandato. Segundo pesquisa do Ibope realizada no início de outubro, o prefeito do Rio era desaprovado por quase 80 % dos entrevistados. Outra enquete, de novembro, colocava a rejeição ao carioca em 60 %.

Com esse retrospecto, seria difícil ganhar mesmo com o apoio de Madre Teresa de Calcutá. Mas Bolsonaro resolveu emprestar seu apoio a esses candidatos claudicantes e agora terá de arcar com o peso da derrota – especialmente porque muita gente vai jogar o fracasso em seu colo.

Além disso, o pleito municipal nos apresenta novos rostos da esquerda brasileira. Em São Paulo, vê-se que o Partido dos Trabalhadores está completamente esvaziado, com a diminuta votação de Jilmar Tatto, um politico que participou de duas gestões petistas (Marta Suplicy e Fernando Haddad) como secretário. Tatto, por sinal, foi responsável pela implantação do bilhete único e dos corredores exclusivos de ônibus, dois benefícios para a população que foram mantidos até hoje (o bilhete, no entanto, teve a duração de seu uso diário reduzida).

Mesmo com esse currículo, foi deixado ao Deus-dará pelo partido. Isso e o desgaste provocado pela Lava-Jato causaram uma migração maciça de votos esquerdistas para Guilherme Boulos, do PSOL. Boulos, com uma biografia ligada ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), disputa sua segunda eleição e aglutinou as forças de esquerda ao seu redor para chegar ao segundo turno, com 20,2 % dos votos válidos.

No Recife, a esquerda também estará na segunda etapa das eleições pelas mãos da família Arraes. Os primos João Campos (filho do falecido governador Eduardo) e Marília Arraes (filha de Sônia de Arraes Alencar), netos de Miguel Arraes, vão se enfrentar em 29 de novembro. Neste caso, a briga será entre PSB e PT (a esquerda também obteve bons resultados em Porto Alegre, Fortaleza e Belém do Pará).

Na semana passada, Bolsonaro admitiu, através das redes sociais, que nutria uma disputa com o governador João Doria. Na ocasião, disse que a suspensão dos estudos sobre a Coronavac, patrocinada pelo governo do estado de São Paulo, era uma vitória sua. Quando olhamos para o resultado das urnas paulistanas, no entanto, enxergamos que Doria conseguiu um triunfo. Bruno Covas, seu candidato, foi ao segundo turno contra um oponente do PSOL. Por mais cheia de reviravoltas que seja a política brasileira, é impossível ver Bolsonaro apoiando Boulos em 29 de novembro. Existe, é claro, aquele ditado que diz ser seu amigo o inimigo do inimigo. Mas há um limite para tudo – e o presidente não apoiará o PSOL.

Boulos terá chances contra Covas? Ele deverá aglutinar os votos de Tatto e talvez um pedaço do eleitorado de Márcio França e de Russomano, referente àqueles eleitores que sufragariam qualquer candidato contra o PSDB de Doria. Mas, de acordo com pesquisas realizadas no início deste mês, o prefeito estaria à frente de seus oponentes em um segundo turno.

Nessa etapa final, um dos pontos mais importantes é o índice de rejeição dos candidatos. Em uma pesquisa de setembro, Bruno Covas apontava uma rejeição de 30 % e Boulos, 24%. Só que, naquele momento, O tucano tinha apenas 18 % das intenções de voto e o líder do MTST 9 %. Porém, o percentual de ambos, com a evolução do eleitorado, deve mudar. Pelo que apontou a simulação de segundo turno, provavelmente a rejeição a Boulos, hoje, é maior. De qualquer forma, seria surpreendente se a cidade com a maior força econômica da União elegesse um postulante cuja atividade, até pouco tempo atrás, era desrespeitar a propriedade privada, invadindo imóveis e terrenos para ocupação ilegal.

Por fim, pode-se concluir que o eleitorado de Rio e São Paulo continua insatisfeito com as opções que possui. Neste ano, tivemos níveis altos de abstenções, brancos e nulos. Em São Paulo, a soma dos não-votos beirou os 41 %, contra 38,5 % em 2016. Já entre os cariocas, ausentes e insatisfeitos chegaram a 45 %, contra 38,1 % registrados nas últimas eleições municipais. Este salto pode ser explicado pelo temor de contaminação que vivemos em plena pandemia. Mas a manutenção de altos índices mostra que há uma parcela enorme de eleitores que não se sentem representados pelos candidatos a prefeito.

Os números das duas maiores capitais impressionam porque percebe-se um desinteresse crescente e contínuo por parte do cidadão comum pela política. Quanto menor o número efetivo de eleitores, contudo, maior será a possibilidade de estarmos à mercê de candidaturas populistas ou de irresponsáveis, que tanto fizeram mal ao país no passado (alguns ainda fazem). Abdicar do voto é deixar a decisão na mão dos outros. Portanto, precisamos romper essa tendência e atrair os eleitores de volta, repensando as regras de campanha ou até de votação. Já evoluímos muito com as urnas eletrônicas. Talvez esteja na hora de pensarmos em alguma solução diferente para trazer o eleitor de volta à cabine. Está aí um desafio para o ministro Luís Roberto Barroso, do Tribunal Superior Eleitoral.

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