Uma das estratégias consagradas da Operação Lava-Jato foi a combinação de prisões preventivas e delações premiadas. Ao ficar na cadeia por muito tempo, o acusado tem sua força de vontade reduzida a pó e abre o bico. Simples assim. E, em muitos casos, o estratagema deu certo e ajudou o Ministério Público a encontrar elos importantes da corrente que produzia dinheiro sujo através de corrupção.
Ocorre que, aqui e ali, surgem exageros e fantasias nos processos – geralmente produzidos no desespero de quem quer deixar a cela e voltar ao convívio da família. O caso do ex-ministro Antonio Palocci tem tudo para se encaixar nesta categoria, pelo menos na história em que diz ter havido propina na compra de helicópteros e submarinos franceses durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Palocci, o acordo de se pagar suborno foi sacramentado numa reunião e 7 de setembro de 2009. Temos aqui o primeiro furo da narrativa: como Lula iria propor o pagamento de propina numa sala cheia de gente, acompanhando o encontro dele com o ex-presidente Nicolas Sarkozy? Palocci, para defender sua tese, afirma que Lula só tratava deste tipo de assunto diretamente com o outro lado, sem intermediários, para não deixar testemunhas. Ora, Lula fala o idioma francês? Sarkozy é versado na língua de Camões? Não e não. Como se daria, então, essa negociata? Na linguagem de sinais?
Outro ponto, este irrefutável: o contrato para compra de helicópteros e submarinos foi assinado em dezembro de 2008. Alguns meses antes da reunião relatada pelo ex-ministro do Partido dos Trabalhadores. Seria o caso de uma negociação de propina retroativa? Vamos esquecer por alguns instantes que as empresas fornecedoras de material bélico tenham mecanismos de compliance e sejam auditadas. Desde quando alguém paga suborno por algo que já foi encomendado e o sinal foi efetuado?
Ninguém está defendendo o PT ou dizendo que o partido não tenha recebido dinheiro por fora enquanto esteve no governo. Muito pelo contrário. As maracutaias realizadas na Petrobras comprovam o caráter venal dos petistas. Mas a historieta contada por Palocci tem furos significativos. E serve de exemplo para que as delações sejam exaustivamente investigadas antes de ser aprovadas pela Justiça. Caso contrário, muitas invenções iguais a esta ganharão as manchetes dos jornais.