Comandante do Serviço Nacional de Informação foi apontado como um dos envovidos no fracassado atentado do Riocentro, em 1981
Morreu, aos 97 anos, o general Newton Araújo de Oliveira e Cruz, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) entre 1977 e 1983 e conhecido pelas acusações de envolvimento em crimes de repressão durante a Ditadura (1964-1985). Ele estava internado no Hospital Central do Exército, na zona norte do Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pelo Comando Militar do Leste.
Newton Cruz foi um dos principais críticos da abertura dos arquivos do regime militar. Foi também um dos poucos generais a ser formalmente acusado por crimes cometidos durante a Ditadura, ainda que jamais tenha sido condenado ou inocentado. Apelidado de Nini, tinha como característica os modos agressivos. Diante das câmeras, chegou a ameaçar jornalistas de prisão por discordar das perguntas que lhe eram direcionadas.
Atentado do Riocentro
O general foi um dos seis altos oficiais supostamente envolvidos no atentado a bomba do Riocentro, em 1981. A ação foi tramada pela chamada linha dura do regime para causar pânico em um show comemorativo ao Dia do Trabalho que reuniu cerca de 20 mil pessoas. O plano deu errado e uma bomba explodiu no colo do sargento Guilherme do Rosário, que morreu no local. O inquérito original, que correu na Justiça Militar em 1981, tentou culpar organizações de esquerda pelo episódio. A farsa foi desmontada, mas ninguém foi punido.
Cruz foi considerado coautor do atentado pelo Ministério Público Federal por não ter tomado atitudes para evitá-lo. A denúncia dizia que, ao saber do plano e de sua execução, ele se omitiu diante da possibilidade de que pessoas fossem mortas e feridas.
Outros crimes durante a Ditadura
Newton Cruz nunca foi condenado ou preso pelas acusações dos crimes durante a ditadura. Sua folha corrida é ampla:
- Denunciado pelo MPF em 2014 por participação no atentado. Meses depois, a Justiça Federal concedeu habeas corpus aos cinco militares e um delegado envolvidos;
- Em 2014, foi apontado pela Comissão da Verdade como um dos 377 militares que cometeram crimes durante a ditadura;
- Em 1982, o jornalista Alexandre von Baumgarten foi assassinado. O caso veio a público no ano seguinte, após a publicação de um dossiê em que ele acusava integrantes do SNI de planejar sua morte. O relato apontava Newton Cruz, então chefe do SNI, como mandante de sua morte;
- O caso Baumgarten só começou a ser investigado com profundidade em 1985, quando o delegado Ivan Vasques, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, assumiu o processo. Ele indiciou três militares pelo desaparecimento e morte das vítimas. Em 1992, todos foram absolvidos.