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Moro e Huck: numa eventual chapa, um tira votos do outro

Desde o final de semana, especula-se a possibilidade de uma chapa composta pelo ex-ministro Sérgio Moro e o apresentador de TV Luciano Huck para 2022. No encontro entre os dois, revelado pela Folha de S. Paulo, evitou-se definir quem ocuparia o cargo de presidente ou o de vice. A dupla combinou retomar a conversa e, caso haja interesse, decidir quem encabeçará a cédula eleitoral.

Essa chapa, em tese, reúne dois nomes com relativa dose de popularidade e que sempre lembrados quando o assunto é sucessão presidencial. Mas, em função de seus perfis, será que é um bom casamento?

Huck, no ano passado, publicou um artigo no site do World Economic Forum defendendo o aumento da taxação das maiores fortunas do país como a principal forma de se combater a desigualdade social brasileira. É o tipo de argumento que seduz a esquerda e, quando utilizado de forma explícita numa campanha eleitoral, deve afastá-lo do empresariado.

Dessa forma, a Luciano Huck restaria uma estratégia de campanha que combinasse o populismo (derivado do conteúdo assistencialista que é frequente em seu programa de televisão) com iniciativas à lá Robin Hood. Mas, como já se demonstrou exaustivamente, a arrecadação do governo cai toda a vez que se aumenta a tributação (é a chama da curva de Laffer, que demonstra a uma relação direta entre elevação fiscal e diminuição arrecadatória). A ideia de Huck, além de antiga, vai reduzir o interesse dos empresários em investir no Brasil.

Além disso, esta proposta parte do princípio de que o propósito de todo empreendedor é apenas acumular capital. Isso, evidentemente, ocorre num processo de crescimento empresarial. Mas pergunte a um industrial se ele prefere trocar seu barco ou investir em um novo empreendimento. Nove entre dez vão preferir criar um novo negócio. Do ponto de vista estritamente pecuniário, um barco só traz despesas; um empreendimento, porém, pode gerar mais dinheiro.

Huck, assim, teria dificuldades em prosperar no quadrante dos eleitores de direita, com possibilidade de conquistar os de centro e uma parte da esquerda moderada – mas essas andorinhas não fazem verão.

Se em sua chapa estiver Sergio Moro, contudo, o esforço de Huck em atrair os centristas e os esquerdistas moderados pode ir ladeira abaixo. Neste grupo estão os chamados “isentões” que criticaram o ex-juiz por eventuais excessos cometidos pela Lava-Jato, além de admiradores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi preso por determinação do ex-juiz.

A saída de Moro do governo, em abril deste ano, provocou uma guerra de narrativas nas redes sociais. Ou seja, o ex-ministro já tinha a esquerda contra si e acabou angariando inimigos também na direita. Ele tem, no entanto, torcedores fiéis e esfuziantes: os fãs da Lava-Jato e eleitores que acreditam ser a corrupção o maior dos males no Brasil. Mas esse agrupamento já foi maior e não é suficiente para ganhar uma eleição.

Assim, temos uma chapa na qual um fará um discurso favorável à taxação dos mais ricos, ao lado de um companheiro que desagradou bolsonaristas. Ou seja, com problemas entre o eleitorado de direita. Ao mesmo tempo, a abordagem populista de Huck pode agradar centro e esquerda; só que o passado de Moro na Lava-Jato pode descontentar esses eleitores.

No fundo, um tira votos do outro. Talvez essa união não seja um bom negócio para Moro e Huck.

Há outro problema nesta composição: muitos analistas acreditam que uma chapa verdadeiramente competitiva deve sempre ter um nome que tenha apelo no Nordeste. Neste caso, nenhum dos componentes serviria a esse propósito.

Em relação à chapa vencedora de 2016, também não havia nenhum nordestino e a vitória veio assim mesmo. Mas Bolsonaro teve dificuldades para encontrar um vice e Hamilton Mourão não foi sua primeira opção. O nome favorito do então candidato pelo PSL era Magno Malta. Embora senador pelo Espírito Santo, localizado na região Sudeste, Malta nasceu na Bahia e morou muitos anos em Pernambuco. Isso mostra o quanto ter um nome ligado ao Nordeste é importante num pleito nacional.

Resta saber se os dois protagonistas dessa história serão mesmo candidatos daqui a dois anos. Moro sempre desconversa sobre o assunto e diz estar procurando emprego. Huck não dá declarações públicas, mas se movimenta com desenvoltura no cenário político (almoçou com Rodrigo Maia há poucos dias) e tem feito entrevistas com gurus da economia mundial para mostrar que tem preparo intelectual caso seja escolhido presidente.

Este jogo de “cerca-Lourenço” faz sentido?

Bolsonaro se lançou candidato muito antes de 2016 e firmou sua imagem como o anti-PT, capitalizando um enorme número de simpatizantes que se tornaram eleitores. Para Huck, trabalhar sua candidatura de forma explícita seria uma forma de antecipar os ataques que surgem nas eleições, diminuindo seu impacto em 2022. Haveria tempo suficiente para recuperar os desgastes e criar uma nova narrativa, com ou sem Moro ao seu lado. Mas, para se viabilizar, precisa ser apoiado pelos empresários. Isso ocorrerá enquanto ele defender o aumento de impostos sobre grandes fortunas?

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