A Agência Federal de Inteligência (AFI) argentina deve interrogar o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). Ele é apontado como diretamente envolvido na investigação ilegal que levantou o perfil ideológico de 403 jornalistas que iriam participar da cobertura das cúpulas da OMC, em 2017, e do G20, em 2018, ambas ocorridas em Buenos Aires.
Além dos jornalistas argentinos e estrangeiros, cerca de uma centena de acadêmicos, empresários e personalidades foram averiguados. A denúncia contra Macri deve ser apresentada oficialmente nesta segunda-feira 8).
Evidências foram encontradas em três envelopes com as legendas “2017”, “Jornalistas G20” e “Vários”, dentro de um cofre no gabinete do ex-diretor operacional da Área de Contrainteligência da AFI. Os dados foram obtidos em redes sociais e nas publicações e posicionamentos públicos dos investigados. O problema é que nenhum deles teria cometido crime, o que tornaria o monitoramento ilegal.
Junto aos perfil constam observações como: “crítico ao atual governo”, “afinidade com o peronismo”, “apoia o governo”, “pediu no Facebook a libertação de Lula” ou “apoia o aborto legal”. As fichas eram marcadas em verde, amarelo ou vermelho, indicando quem deveria ser credenciado para as cúpulas.
O caso é mais um da relação tumultuada dos últimos governos argentinos com a imprensa. Antecessora, opositora e agora vice-presidente, Cristina Kirchner abertamente boicotou veículos de imprensa que a criticavam. Tudo indica que Macri foi além.
Em sua denúncia, a interventora da AFI, a promotora Cristina Caamaño, destaca que nas fichas havia até menções à simpatia com grupos feministas.