Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Lula e a redenção de Dilma: chega de reescrever o passado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra semanalmente que tem fortes intenções de reescrever a história. Dessa vez, a ideia é promover uma espécie de redenção da ex-presidente Dilma Rousseff. “É preciso ver como é que se repara uma coisa que foi julgada por uma coisa que não aconteceu”, declarou o Chefe do Executivo. Explicando: o processo de improbidade administrativa sobre as pedaladas fiscais que provocaram o impeachment de 2016 foi arquivado. “A Justiça Federal em Brasília absolveu a companheira Dilma da acusação da pedalada, a Dilma foi absolvida, e eu agora vou discutir como que a gente vai fazer”, avisou.

Antes de mais nada, é preciso reconhecer que o motivo para o impedimento de Dilma nunca teve exatamente grande força. Afinal, desde Fernando Henrique Cardoso, todos os presidentes promoveram algum tipo de pedalada fiscal para manter as contas públicas dentro dos limites estabelecidos pela Lei e pelo Congresso. A decisão de parcelar os precatórios federais em 2021, por exemplo, pode ser interpretada por muitos como uma espécie de pedalada. Mesmo assim, esse expediente nunca foi utilizado como desculpa para tirar Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto.

No fundo, um processo de impeachment se dá por absoluta falta de apoio do Congresso ao presidente. Uma vez que se percebe a fragilidade política do mandatário e sua incapacidade de negociar com o Parlamento (além da confiança em quem estiver ocupando a vice-presidência), é uma questão de tempo para que o mecanismo de impedimento comece a funcionar.

Com Fernando Collor, foi uma Fiat Elba registrada em seu nome e paga com um cheque de seu ex-tesoureiro de campanha (e operador de Caixa 2 oriundo de corrupção), Paulo César Farias. No caso de Dilma, a desculpa acabou sendo o jeitinho dado para que as contas públicas se enquadrassem na legalidade.

Ao revisitar o passado, Lula tenta vender uma ideia distorcida ao país – a de que Dilma era uma ótima presidente e foi vítima de uma conspiração. Vamos deixar bem claro: Dilma Rousseff deixou a desejar como mandatária. Jogou a economia em uma combinação maléfica de inflação e estagnação ao desobedecer às regras mais básicas da gestão dos recursos públicos; destruiu a relação entre Planalto e Congresso; era adepta de uma centralização insana de poder, esvaziando a autoridade dos ministros e, muitas vezes, conversando diretamente com o staff das pastas. Por fim, oferecia aos brasileiros espetáculos vexatórios quando abria a boca em eventos públicos.

Os números talvez expliquem melhor a catástrofe administrativa de Dilma. Ela assumiu o governo em 2011 e obteve a maior taxa de aprovação dada a um governante no ano seguinte. Em agosto de 2012, sua aprovação pessoal foi de 77 %, um recorde que não foi batido até hoje. Nos meses finais de seu mandato, apenas 14 % aprovavam seu jeito de governar, diante de uma desaprovação de 82 % (4 % não souberam responder).

É possível contestar esses números? Ou Lula irá copiar Bolsonaro e dizer que essas pesquisas não são confiáveis?

O PT sabe muito bem da rejeição provocada pela ex-presidente junto ao eleitorado. É por isso que ela foi colocada na geladeira durante a campanha de 2022 e, após a vitória, despachada para China, nomeada para comandar o Banco dos Brics, em Xangai.

Muitos economistas ligados ao PT defendem a tese de que a economia sob Dilma só foi mal por conta de um boicote de empresários, que tiraram o pé do acelerador de propósito para colocar a população contra o governo. Essa teoria da conspiração é tão válida como aquela que afirma serem os rastros dos aviões nos céus substâncias químicas distribuídas no ar para tornar a humanidade infértil.

Os empresários nunca morreram de amores por Dilma – isso é verdade. Mas o empresariado pode ser tudo, menos suicida. Por isso, parou de investir quando viu que a economia estava desarranjada e não o contrário. Os donos de empresas querem expandir seus negócios. Se isso ocorrer sob uma bandeira petista, como aconteceu nos dois primeiros mandatos de Lula, divergências ideológicas são deixadas de lado.

Mas se os sinais dados pela equipe econômica são desgastantes, como o crescimento do déficit público sob Dilma Rousseff e a consequente inflação, o desânimo toma conta de toda a comunidade empresarial. E foi exatamente o que ocorreu.

Lula deveria se preocupar com o futuro e reestabelecer a confiança dos empresários no Brasil em vez de tentar reescrever o passado – até porque só os militantes do PT é que vão engolir essa conversa mole sobre Dilma.

Para a frente é que se anda, presidente.

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pergunte para a

Mônica.

[monica]
Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.