Endossado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) apresentou sua candidatura à presidência da Câmara no início de janeiro destacando o apoio de partidos de diferentes espectros. O então bloco de Rossi reunia legendas de esquerda, como PT, PDT, PSB e PCdoB; os tradicionais MDB, PSDB e DEM; e até mesmo o PSL, com atuação mais à direita.
A chamada “frente ampla” lançada pelo parlamentar – e articulada por Maia – prometia defender a democracia, a independência do Parlamento e principalmente barrar a tentativa de o presidente Jair Bolsonaro eleger um aliado para comandar a Casa. A vitória acachapante de Arthur Lira (PP-AL) na noite de segunda-feira (1) foi um baque na iniciativa. Turbinado pelo Palácio do Planalto, que abriu os cofres para liberar emendas aos parlamentares e garantir cargos no primeiro escalão ao Centrão, Lira triunfou já no primeiro turno, ao receber 302 votos válidos dos 513 possíveis.
Projetando para a sucessão presidencial de 2022, o resultado pode ser considerado uma boa notícia para Bolsonaro. Ao colocar a máquina pública a favor de Lira, o Planalto conseguiu desmobilizar a “frente ampla”. Ao seduzir ACM Neto, provocou o racha no DEM, que pode culminar na saída de Rodrigo Maia do partido. Gerou traições no PSDB e abriu a porteira no PSL. Tudo sem uma resposta enfática dos líderes do MDB. Enquanto isso, na esquerda, PT e PDT seguem se bicando – e o PSOL resiste a ter posições pragmáticas para construir pontes.
Bolsonaro agora vai precisar pagar a conta para o Centrão. Se cumprir o acordo com Lira, verá baixar o risco de uma CPI ou a abertura de um processo de impeachment nos próximos dois anos. O certo é que o presidente sai da eleição na Câmara fortalecido e com a receita para travar a formação de um bloco contra si.