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É possível comparar o momento atual com o da Europa no pós-guerra?

Como compreender a extensão dos estragos provocados à economia com o isolamento social? Haverá uma recessão cujos efeitos são difíceis de estabelecer. Onde encontrar elementos na história para efetuar comparações e encontrar saídas para o problema atual?

Um paralelo que se pode traçar com a situação de hoje é a crise econômica que abateu a Europa no pós-guerra, na segunda metade dos anos 1940. As cidades tinham sido destruídas e o desemprego era generalizado. Regiões urbanas e agrícolas foram totalmente devastadas pelo conflito. Alguns números: 40 % das habitações alemãs desapareceram sob bombardeio, assim como 20 % de suas fábricas. Na Inglaterra, 30 % das casas sumiram nas mesmas condições – 3,5 milhões de residências apenas na região metropolitana de Londres.

A fome tomou conta do continente. As rações estabelecidas pelas autoridades na Alemanha ocupada, por exemplo, eram de 800 calorias diárias, o que provocava revolta e agitação social. A recessão foi tão grave que a moeda local deixou de existir, sendo substituída por cigarros. Um professor, a título de ilustração, ganhava cinco maços por semana e trocava os bastonetes de fumo por mercadorias.

Nos países aliados, contudo, a situação não foi muito diferente. Manteve-se a moeda local, mas havia a mesma combinação monstruosa que assolava os derrotados: fome e depressão econômica. Além disso, existia um dilema insolúvel para os governantes. O que fazer com o enorme contingente de soldados de volta à economia (heróis que tinham derrotado o mal personificado pelos nazistas) diante de uma exígua quantidade de empregos à disposição? Esse era o grande desafio dos líderes políticos na Grã-Bretanha. Não foi à toa, portanto, que Winston Churchill – o grande comandante da vitória dos aliados contra o Eixo – acabou perdendo as eleições de 1945.

O triunfo dos trabalhistas logo após o final da Segunda Guerra foi seguido pelo crescimento da esquerda em praticamente todas as eleições. Na França, o Partido Comunista chegou a quase um milhão de filiados, um recorde histórico. Na Itália, nunca se viu tanto comunista de carteirinha: os registrados eram 2,4 milhões de cidadãos.

Aqui vem o primeiro paralelo que se pode traçar com o cenário atual. O quadro recessivo vai elevar a desigualdade social e deve provocar um crescimento numérico nas fileiras da esquerda. Essa expansão será suficiente para provocar a volta do Partido dos Trabalhadores ao poder? Provavelmente não. A rejeição ao PT tem duas raízes. Uma é a repulsa a uma proposta esquerdista para a economia, percebida claramente em 2018, que deverá ser atenuada num futuro próximo. Outra é a ojeriza à corrupção perpetrada pelos petistas nos 14 anos de governo, que foi revelada em grande parte pelos escândalos Mensalão e Petrolão. Esta última razão talvez segure um pouco a adesão à esquerda. Mas, quando o assunto é política, tudo pode acontecer. Para quem duvida, é só lembrar que, há dois meses, um afago público de João Doria em Lula seria impossível. Mas foi o que aconteceu há poucos dias.

Voltando ao Pós-Guerra: o crescimento das esquerdas foi percebido rapidamente pelos Estados Unidos, que sacou um coelho da cartola para combater o avanço dos comunistas e socialistas — o Plano Marshall, que entrou em vigor em 1948.

Temos, novamente, outra analogia que podemos fazer com a segunda metade dos anos 1940: o dinheiro público vai jorrar na economia. Recentemente, o mundo passava por uma temporada de afirmação das ideias liberais e de discussão da redução do tamanho do Estado. Dificilmente haverá uma retomada, no curto prazo, desse debate. O keynesianismo voltará a dar as cartas por enquanto, até que todos percebam os males que existem por trás da manutenção de déficits públicos seguidos (lembremos que um dos principais problemas do modelo econômico de Dilma Rousseff foi justamente o desrespeito às contas estatais).

A dúvida que permanece é: por quanto tempo sofreremos os efeitos da depressão econômica? Essa é uma incógnita que nenhum livro de história poderá resolver. O que não podemos é nos entregar à provação que será enfrentar as consequências do isolamento provocado pelo coronavírus. Esse sentimento de impotência diante de um adversário muito poderoso pode ter ressonância no que sentiram os franceses diante dos nazistas. Logo após o final da Segunda Guerra, o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre afirmou: “No espaço de cinco anos, adquirimos um formidável complexo de inferioridade”. Se os franceses, diminuídos pela fraqueza diante do inimigo, conseguiram recuperar o orgulho e o amor próprio em pouco tempo, o mesmo vale para nós. Nosso oponente é invisível, poderoso e trará consequências terríveis à economia do planeta. Mas não dobrará um país como o Brasil, que já sobreviveu a grandes crises e também vai superar essa.

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