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CEO do Carrefour cita “racismo estrutural” diante do negacionismo de autoridades

“O que aconteceu na loja do Carrefour foi uma tragédia de dimensões incalculáveis, cuja extensão está além da minha compreensão como homem branco e privilegiado que sou. Antes de tudo, meus sentimentos à família de João Alberto. E meu pedido de desculpas aos nossos clientes, à sociedade e a nossos colaboradores”, declarou o CEO do Carrefour Brasil, Noel Prioux, em um vídeo gravado e exibido na TV aberta, por volta das 21 horas deste sábado (21).

A presença em horário nobre de um dirigente da multinacional francesa mostrando o rosto ao público dá a dimensão do assassinato de João Alberto Silveira Freitas por dois seguranças em uma unidade do supermercado em Porto Alegre (RS), na noite da última quinta-feira (19). “Se uma crise como essa está acontecendo conosco é porque temos a responsabilidade de mudar isso na sociedade. A morte de João Alberto não pode passar em vão”, completou.

Enquanto brasileiros brancos e nem tanto negam um eventual componente racista no crime, algo que a investigação policial não descarta, mas precisará determinar, o Carrefour assumiu abertamente que não pode ignorar a questão. No vídeo, João Senise, vice-presidente de Recursos Humanos, afirmou que mais ações de diversidade são necessárias. “O que aconteceu em nossa loja não representa quem somos e nem os nossos valores. 57% dos nossos funcionários são negros e negras. E mais de um terço dos gestores se declaram pretos ou pardos. Mas não é o bastante” disse. Contra o Carrefour, todavia, pesa a contratação de uma empresa de segurança, a Vector, que recrutou vigias Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva (policial militar temporário), que foram detidos em flagrante e e autuados por homicídio triplamente qualificado: motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Diante de negacionismos recalcitrantes, o anúncio da criação de um comitê da empresa para ir mais fundo nas questões de diversidade ganha um contorno relevante. “É por isso que assumimos hoje o compromisso de ajudar a combater o racismo estrutural”, disse Prioux, ao final. Esta frase caberia melhor aos dirigentes do país, mas o presidente Jair Bolsonaro rejeita a questão e, sem citar João Alberto, afirmou que prefere ver todos em verde e amarelo e que os protestos e vandalismos em unidades na rede foram obra de quem prega a discórdia com fins políticos. O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que não existe racismo no Brasil. Em um episódio paralelo, mas algo emblemático, nesta semana 34 dos 505 juízes da Associação dos Magistrados do Estado de Pernambuco (Amepe) lançaram um manifesto contra o curso online da entidade “Racismo e Suas Percepções na Pandemia” e a entrega da cartilha “Racismo nas Palavras”. Eles alegam “infiltração ideológica”. Quatro juízes pediram para sair da entidade de classe.

De acordo com o Mapa da Violência, brasileiros negros e pardos têm 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de assassinato do que uma pessoa branca.

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