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Brasil, o país onde as previsões sempre dão errado

Ser economista, no Brasil, é um desafio constante. Nos últimos anos, quase todas as previsões de crescimento para o país não se concretizaram e os PIBs registrados ao final de dezembro sempre foram menores que os imaginados nas planilhas de janeiro. Lidamos frequentemente com fatores imponderáveis e isso acaba dizimando qualquer capacidade de prever o futuro.

Ao final de 2019, porém, esperava-se que essa tradição fosse rompida. Quase todos operadores do mercado financeiro estavam animados com a queda da Selic e apostavam num ano recheado de reformas e, como consequência, uma evolução econômica blindada.

E, novamente, o imponderável ocorreu – a crise provocada pela pandemia do coronavírus. A única diferença é que esse fator de imprevisibilidade pegou o mundo inteiro de surpresa, não apenas o Brasil. Outro ponto fora da curva foi a queda – o melhor o desabamento – dos preços do petróleo. Se esperava uma queda nas cotações, mas o resultado final foi muito mais forte que qualquer estimativa.

Para recordar os números imaginados pelos especialistas: em janeiro, esperava-se um crescimento de 2,3 % do Produto Interno Bruto (haverá diminuição, que os mais otimistas estimam em 3,0%); a inflação era projetada para 4,04% (deve ficar em torno de 2,0 %); a Selic foi estimada em 4,5 % (reajustada para 3,75% em março e há quem diga que sofrerá novos cortes); por fim, projetou-se a cotação do dólar a R$ 4,08 (na sexta-feira, fechou em R$ 5,59).

Agora, no meio do furacão, todas as previsões feitas podem dar errado novamente.

O ofício do analista político também padece do mesmo mal. Nos últimos anos, dificilmente um prognóstico eleitoral feito com antecedência foi cravado de forma correta. O pleito de 2018, por exemplo, foi marcado por inúmeras surpresas entre os governadores eleitos – sem contar que poucos apostaram na vitória de Jair Bolsonaro já no primeiro semestre do ano. Ainda em setembro, via-se muitos cientistas políticos acreditando no crescimento de um ou outro candidato, com base em número de diretórios nacionais ou de filiados. Essa virada, porém, nunca ocorreu. Os nomes do PSL e do PT lideraram as pesquisas desde o início e foram ao segundo turno, contrariando vários analistas.

Quando se pensa no futuro, usa-se uma fórmula na qual o presente é um dos ingredientes e isso provoca necessariamente distorções. O fenômeno ocorre com frequência na ficção científica. É só lembrar dos filmes dos anos 1950: o futuro era uma evolução da estética da época. O mesmo pode ser visto nas produções das décadas seguintes. Só que, de tempos em tempos, há quebras de paradigma que mudam tudo. Nos cenários da macroeconomia e da política o mesmo acontece.

No Brasil, onde um mês parece entrar na categoria “longo prazo”, prever alguma coisa é um exercício virtualmente impossível. Assim, talvez o melhor seja adotar o sistema de baby steps para traçar cenários macroeconômicos ou políticos. Começar por um horizonte de um mês, por exemplo. E começar a ajustar os cenários a partir daí.

Tome-se como exemplo a saída de Sergio Moro do governo. Muito se falava sobre os desentendimentos entre o presidente e o então ministro da Justiça. Mas ninguém conseguiria prever que haveria um rompimento em plena crise provocada pela pandemia – uma ruptura que muda completamente o cenário político no Brasil.

A escola liberal ensina que os melhores empreendedores são aqueles que não prestam muita atenção no governo e trabalham na base do “não sabia que era impossível, foi lá e fez”. Talvez seja a hora de o empresariado adotar previsões protocolares e as esquecerem durante os doze meses do ano. Como diria Winston Churchill: “Eu sempre evito prever o futuro antes de qualquer um; é muito melhor profetizar alguma coisa depois que ela ocorreu”. Churchill, em sua vasta sabedoria, sempre soube que era necessário estar preparado para tudo. Mas não perder tempo querendo saber para o quê era preciso se preparar. Exatamente como ocorre na economia e na política do país.

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Comentários

Uma resposta

  1. Bolsonaro definitivamente não é Churchill, não está preparado para nada e só faz besteira!
    Moro, por sua vez, entre a vaidade e a desonra, optou pela vaidade e obteve a desonra! E o país sangra!

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