O governo Jair Bolsonaro começou com dois pilares de sustentação: Sérgio Moro e Paulo Guedes. Seis meses depois, vê-se que Moro passou de indemissível a ministro que precisa do apoio do presidente numa situação de crise; e que Guedes vai se adaptando ao estilo de Bolsonaro ao contrário do que acontecia no início da administração.
O presidente vai moldando todo o governo ao seu gosto, pois é dele o poder. A pergunta é: Bolsonaro vai continuar no caminho do liberalismo ou abraçará o intervencionismo estatal de direita, como parecia ser sua convicção ideológica antes de se aproximar de seu “Posto Ipiranga”?
Por que esta dúvida?
A cadeira de presidente, muitas vezes, molda a personalidade do mandatário eleito. Isso ocorreu com Fernando Henrique Cardoso, com Luiz Inácio Lula da Silva e está acontecendo com Bolsonaro. Todos entraram de um jeito no Planalto e saíram de outro — e aprenderam rapidamente a mandar na equipe e ouvir cada vez menos.
Os vices que assumiram, no entanto, sempre se pautaram pela busca do apoio político e evitaram impor sua vontade. Foi o caso de José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.
Onde está o mundo ideal? Na estrada que divide os dois comportamentos. O presidente ideal seria aquele que sabe manter as rédeas ideológicas de sua administração, mantendo um canal aberto com o Congresso. Bolsonaro cabe neste figurino? Hoje, não. Caberá algum dia? Dificilmente.
Mas isso não chega a ser um problema. Há líderes políticos que insistiram em suas convicções e trouxeram grandeza às nações que comandaram. Da Grã-Bretanha, surgem dois exemplos: Winston Churchill e Margaret Thatcher. Churchill enfrentou o Parlamento britânico e rechaçou uma aliança com a Alemanha nazista. E Thatcher insistiu no liberalismo num país dominado por uma mentalidade estatizante. É dela uma frase que resume o que a ação política deveria ser, dita para George Bush pai num momento de conflito mundial: “Não busque o consenso. O consenso é a negação da liderança”.