As recentes revelações sobre os instintos homicidas amalucados do ex-titular da Procuradoria Geral da República, Rodrigo Janot, descortinam mais um problema que tem suas raízes durante os catorze anos que o Partido do Trabalhadores mandou no país – o corporativismo que surge das listas tríplices.
No caso específico da PGR, o hábito de nomear o chefe a partir de uma lista tríplice surgiu no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa época, o escolhido foi Claudio Lemos Fonteles, pinçado de uma lista elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores de República (ANPR).
Os nomes que surgem neste tipo de lista são aqueles mais próximos dos anseios corporativistas da categoria. É uma espécie de sindicalismo de resultados – para os próprios sindicalistas. Nenhum parâmetro de competência é colocado na mesa ao elaborar as tais listas tríplices. Entram no pódio do escrutínio final quem conseguir agradar seus pares. Ou seja, aqueles que colocam o dedo na ferida e desejam enquadrar exageros, desmandos e incompetências são deixados de lado. E permanecem no jogo apenas quem defende os interesses classistas.
Neste sentido, a escolha de Augusto Aras é uma lufada de ar fresco num ambiente sufocado. Aras já avisou que pretende colocar ordem na casa sem prejudicar o combate à corrupção. E que não tolerará arroubos de estrelismo por parte daqueles que, como investigadores e guardiões da Justiça, precisam da discrição como o ser humano necessita de oxigênio. Depois de tantos anos de protagonismo e corporativismo, o Ministério Público acatará as instruções de seu Procurador Geral? No que depender do empenho de Aras, sim. Mas o novo Procurador-Chefe terá uma tarefa hercúlea pela frente: conta com a antipatia de praticamente todos colaboradores do órgão. É uma nova era – a do anti-corporativismo. Que tenha vida longa.