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A partidarização do empresariado é positiva ou negativa?

Sempre tivemos, na livre iniciativa, aquilo que o industrial Flavio Rocha cunhou de “empresário moita”. Aquele empreendedor que não queria lutar por crenças liberais, alguém que repetia um “não me comprometa” a cada questionamento de seus pares. Esse arquétipo, no entanto, foi minguando desde meados da década passada, dando lugar a um empresário mais engajado e ativo do ponto de vista político.

Pode-se dizer que a apatia que se enxergava no empresariado, na média, deu lugar a uma espécie de partidarização. Muitos homens de negócios foram a público defender suas posições durante as duas últimas eleições. E alguns setores continuaram mergulhados na polarização mesmo depois dos resultados de 2022.

O editorial do jornal “O Estado de S. Paulo” de ontem chama a atenção para esse comportamento, com foco no agronegócio e seu eventual alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O agro precisa se despartidarizar. Isso não significa se despolitizar. A cadeia global da agropecuária é um setor notavelmente atendido por subsídios, e o agro depende do poder público para se manter competitivo. Inversamente, o Poder Público também depende do agro, há tempos o setor mais pujante da economia, que segue todos os anos superando marcos de produtividade, inovação e sustentabilidade”, diz o texto.

Os editorialistas mostram aos empresários do agronegócio que o governo poderia retaliar essa ação política mais evidente. Por isso, devemos aconselhar cautela ao setor – mas, ao mesmo tempo, admirar a coragem de quem deliberadamente demonstra o seu apoio à oposição quando teoricamente depende do Estado para manter seus níveis concorrenciais.

O Estadão, no entanto, condena a proximidade entre o segmento e o ex-presidente. “Diz-se que o agro é pop e com razão. Acima de tudo, o agro é forte, econômica e politicamente, e não precisa de um vândalo político como Bolsonaro para promover seus interesses. As eleições passaram, o eleitorado optou pelo atual governo, e é com ele que o agro tem de tratar, como tem de tratar com qualquer governo, de esquerda, direita ou centro. Já passou da hora de o setor se despartidarizar e, sobretudo, se desvencilhar desse passivo político que atende pelo nome de Jair Bolsonaro”, encerra o editorial.  

É possível entender várias das críticas feitas pelos jornalistas do “Estado de S. Paulo” ao ex-mandatário. Mas faz sentido conclamar um setor a se afastar de um líder político, por mais radioativo que ele seja?

O Brasil demorou muito tempo para que a classe empresarial se manifestasse politicamente e assumisse publicamente suas preferências. Não é hora de botar isso para debaixo do tapete, pelo contrário. Se a predileção dos agricultores e pecuaristas é por Bolsonaro, que seja. Se estiverem errados, aprenderão com o tempo.

O comportamento do agro, porém, mostra claramente que os conservadores não têm exatamente opção. Bolsonaro ocupou tão fortemente o papel de líder máximo da oposição que não importa, na prática, o fato de ele estar inelegível (muitos próceres direitistas acreditam que a possível eleição de Donald Trump desencadeará um movimento internacional para restituir os direitos políticos do ex-presidente, que concorreria em 2026. As chances de que isso possa ocorrer, no entanto, são praticamente nulas).

Enquanto Jair Bolsonaro despontar como o maior nome da Direita, não adianta reclamar: boa parte do empresariado, de todos os setores, vai continuar apoiando o ex-presidente e seguindo suas orientações políticas. Isso só poderá mudar conforme outros líderes, como Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Ratinho Jr. ou Tarcísio de Freitas, forem ganhando mais espaço no cenário nacional e considerados como oponentes de força contra o PT daqui a dois anos.

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