A Califórnia, responsável pelo cultivo de todos os tomates utilizados pela empresa, enfrentou o mês de julho mais quente já registrado
A crise climática não poupa nem os produtos mais icônicos do mercado. Depois de afetar a produção de mostarda Dijon na França e azeite de oliva na Espanha, agora é o ketchup Heinz, nos Estados Unidos, que está sob ameaça. A companhia depende inteiramente de tomates cultivados na Califórnia, estado que acaba de enfrentar o julho mais quente da história, com temperaturas médias de 27,6°C e picos de 38°C em várias regiões, segundo os Centros Nacionais de Informação Ambiental (NCEI) dos EUA.
Os especialistas acreditam que o impacto nas plantações que abastecem a Heinz é quase certo, mas a verdadeira extensão dos danos só será conhecida em outubro. Patrick Sheridan, vice-presidente global de agricultura e sustentabilidade da Kraft Heinz, afirmou à Bloomberg que as estimativas variam. “Alguns dizem 20%. Outros, que ninguém sabe”, comenta sobre a porcentagem de culturas expostas ao calor durante a crucial fase de frutificação.
Tomares resilientes
Anualmente, a Heinz produz 660 milhões de unidades de ketchup, das quais 300 milhões são destinadas ao mercado americano. Com um valor de mercado de US$ 42 bilhões, a Kraft Heinz tem investido milhões de dólares no seu centro de pesquisa, o HeinzSeed, para desenvolver variantes de tomates mais resistentes. A atual temporada, marcada por condições climáticas extremas, é um teste decisivo para essas novas sementes, que, se não suportarem as adversidades, serão removidas do programa.
Nos últimos anos, a Heinz tem direcionado suas pesquisas para desenvolver frutos mais resistentes ao calor, à água e à salinização do solo, adaptando-se às novas realidades impostas pelas mudanças climáticas. Este foco representa uma mudança significativa em relação ao início do século, quando a prioridade era criar um fruto naturalmente mais doce.
A Heinz mantém uma cadeia de produção verticalizada, o que significa que as sementes desenvolvidas pela HeinzSeed são vendidas diretamente aos fazendeiros, e a Kraft Heinz compra os tomates processados para a fabricação de seu ketchup. Atualmente, o centro de pesquisa da companhia testa 800 variantes de tomates simultaneamente, e o investimento nesses ensaios quintuplicou nos últimos cinco anos, segundo Sheridan.
Esforço global
O desafio enfrentado pela Heinz é parte de um problema global maior, onde a ciência tem se tornado essencial para acelerar o desenvolvimento de plantas capazes de resistir às condições adversas criadas pelas mudanças climáticas. Iniciativas como a nova variedade de café da Nestlé, desenvolvida no Brasil para resistir a doenças e aumentar a produtividade, e o programa “Seeds in Space”, da FAO e da AIEA, são exemplos de esforços globais para adaptar a agricultura a um planeta em aquecimento.
Enquanto algumas culturas buscam alternativas em novas regiões, como o cacau, que tem se expandido no Brasil devido à seca na África Ocidental, a Heinz continua sua luta para preservar a produção de seu ketchup, enfrentando de frente os desafios impostos pela crise climática.