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Desafio na pandemia: como vender bem uma ideia nas videoconferências?

Ontem, nesta coluna, escrevi sobre as fragilidades que vêm à tona num ambiente direto e reto como o das ferramentas de reunião digital, tão em uso desde que a pandemia do coronavírus mudou completamente o cotidiano de pessoas e empresas. O tema era: em encontros virtuais cronometrados e objetivos, eventuais incompetências podem ficar evidentes e desmascarar profissionais que sempre adotaram o perfil baixo para não se expor.

É preciso, no entanto, abrir uma nova discussão em relação ao outro lado da moeda: como amplificar a percepção da competência numa sala digital? Não se trata de fazer marketing pessoal no meio de uma reunião, até porque é algo que pega mal num momento como o de agora. Portanto, é o caso, isto sim, de entregar depoimentos consistentes, opiniões sólidas e soluções criativas.

Muito do que ocorria no ambiente físico é levado para a esfera digital. Assim, competição, antipatia e inveja são ingredientes que podem ficar como pano de fundo nessas reuniões via computador. Como evitar as cascas de banana que começam a surgir conforme todos ficam cada vez mais à vontade em falar através de seus notebooks?

O treino constante da oratória é o primeiro passo. Antes de mais nada, procure cursos online que ajudem a retórica. E, sem ter medo de parecer maluco, treine bastante e grave essas tentativas. Analise sua performance, da dicção à organização do conteúdo. Lembre-se: uma narrativa linear sempre é melhor compreendida do que uma história cheia de idas e vindas. Escolha um fio condutor: cronologia, ordem crescente de argumentos ou opiniões contra e pró. O importante é estabelecer uma lógica, ser suscinto e vendedor.

Lute contra as inibições. Falo por experiência própria. Nunca fui uma pessoa expansiva. Mas percebi que poderia falar em público sem problemas quando uma professora me chamou para apresentar um evento da escola quando tinha quinze anos. Lutei contra a timidez e dei conta do recado. Mas não se engane: não há uma fórmula mágica, que sirva para todos, para destravar uma personalidade recolhida. Cada um, assim, terá de encontrar seu próprio caminho. Mas pode-se dizer uma coisa: trata-se um processo semelhante ao de falar uma língua estrangeira. Não se pode deixar que os eventuais erros travem sua fluência. Por isso, releve suas dificuldades; gaguejar ou se embanar são dores do crescimento. Continue tentando e seu esforço será notado.

Muitas pessoas ainda têm grande dificuldade na hora de falar bem delas mesmas. Talvez isso seja um pudor que supera as necessidades da vaidade. Existe, entretanto, um jeito de falar bem de si mesmo sem exercer o auto marketing: conte histórias que exaltem alguma conquista sua ou encaixe sutilmente suas interferências dentro da narrativa de um problema que foi resolvido ou de uma vitória de sua empresa.

Querem um exemplo de história que exalte as capacidades de seu protagonista? Daquelas em que o narrador fala bem de si mesmo sem usar um único adjetivo? Aqui vai uma passagem de minha carreira profissional.

O ano era 1996 e estávamos lançando o portal de notícias da Editora Abril, que viria a ser um dos primeiros do país. E a Microsoft era nosso parceiro de tecnologia. A empresa iria nos fornecedor gratuitamente o browser Explorer, que distribuiríamos aos nossos clientes. Mas havia um problema. A Microsoft havia lançado duas versões para esse programa. A 2.0, que só rodava nos computadores com Windows 3.0, de 16 bits, e a 3.0, para Windows 95, de 32 bits. Só que a 2.0 não permitia o uso de frames, o único recurso disponível na época para viabilizar chats, algo totalmente necessário para um site como o que queríamos lançar. Qual a questão? Cerca de 95 % dos computadores no Brasil, naquele tempo, rodavam à base de Windows 3.0 – ou seja, precisaríamos de um Explorer 3.0 que funcionasse em 16 bits. Levamos esse pedido à empresa, que retrucou haver somente uma pessoa capaz de autorizar esse tipo de adaptação no programa. “Quem?”, eu perguntei. A resposta: “Bill Gates”. Para minha sorte, o fundador da Microsoft chegaria ao Brasil na semana seguinte para uma rodada de conversas com clientes. Consegui me encaixar em um jantar que seria feito em homenagem a ele e fui avisado que teria dois minutos para vender meu peixe.

No tal jantar, depois de uma hora e meia, Bill Gates apareceu na minha frente. Apertei sua mão, tomei fôlego e engatei o discurso que havia ensaiado naquela noite em frente ao espelho. Quando expliquei o problema que o Explorer trazia para o projeto da Abril, ele pegou meu cartão de visita, e passou a anotar freneticamente tudo o que eu falava no verso. Fez-me algumas perguntas, que respondi diligentemente. Gates, então, estendeu a mão, deu nossa conversa por encerrada e foi falar com o próximo da fila. Duas semanas depois, recebemos um e-mail da Microsoft, dizendo que o Explorer 3.0 16 bits estava em produção. Abaixo do e-mail deles, havia um histórico mostrando uma série de mensagens. A primeira delas, do próprio Bill Gates, reproduzia fielmente a minha cantilena do jantar e ordenando a criação de uma versão 16 bits para o Explorer 3.0.

A minha história com Bill Gates mostra como é importante se preparar para uma reunião e dedicar algum tempo a estabelecer uma estratégia de comunicação e envolver o interlocutor com suas palavras. Defender uma ideia tem muitas semelhanças com a redação de uma reportagem. É preciso ganhar o leitor logo nas primeiras linhas, estimulando-o a ponto de continuar avançando em sua leitura.

Esse desafio cresce a cada dia, pois as pessoas leem notícias em pequena telas, têm pouco tempo disponível e paciência próxima do zero. Por isso, prender a atenção dos outros é fundamental – tanto no jornalismo como na carreira de um profissional ou em um pitch de vendas. Uma boa comunicação sempre foi algo desejável, mas a régua subiu. O que era bom antes é, no máximo, regular nesse novo mundo. E quem sair na frente vai se sobressair. Invista nisso. Agora é a hora.

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