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A videoconferência expõe incompetências que ficavam antes escondidas

A pandemia do coronavírus terá vários legados. Um deles será o uso amplificado das videoconferências daqui para frente. Essa ferramenta trouxe agilidade e praticidade a todos que tiveram de se reunir virtualmente e também permitiu que as empresas continuassem a funcionar em tempos de Home Office forçado e com regras rígidas de distanciamento social.

Através do computador, os encontros virtuais passaram a ser mais objetivos e diretos do que aqueles que ocorriam no mundo físico. Sem espaço para conversas paralelas ou atrasos, tudo ficou mais na base do pão-pão-queijo-queijo.

Este novo cenário serviu para desnudar incompetências que ficavam antes escondidas no fluxo natural de uma gestão. Há pessoas que desaparecem na multidão justamente para não chamar atenção a si. Entre esses há os tímidos inveterados e aqueles que têm algo a esconder – a sua própria incapacidade.

A dinâmica das vídeo reuniões, no entanto, criaram a cultura da conversa direta e da pressão silenciosa exercida pelo grupo. Desculpas esfarrapadas, assim, não serão toleradas neste novo ambiente de trabalho. Com o estresse provocado pelo estrago feito à economia, os ânimos estão exaltados e as respostas precisam estar na ponta da língua. Com isso, aqueles que não estiverem dentro das expectativas podem receber um bilhete azul em breve, no pior momento da economia brasileira dos últimos tempos.

Alguém que tenha a dificuldade de se comunicar pode ser colocado no mesmo barco dos incapazes. Isso ocorre com frequência. A timidez é um dos entraves que fazem pessoas muito competentes serem preteridas em promoções. A dificuldade de relacionamento com os demais também pode minar a percepção alheia em relação à capacidade de um profissional. Ou seja, aquele executivo em questão é capaz, mas se relaciona mal e gera dois tipos de problemas: ou não é compreendido ou faz involuntariamente a equipe trabalhar contra.

A chave, aqui, é a inteligência emocional.

Perceber que não está agradando é o primeiro passo para aquele que está patinando no julgamento da performance via reuniões virtuais. A solução, aqui, é mais simples. Basta utilizar os canais abertos para entender onde estão os gargalos de comportamento e fazer os eventuais ajustes.

Para os tímidos, talvez a solução não seja tão fácil. No Brasil, a capacidade de comunicação nunca foi algo muito explorado nas escolas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, oratória é algo importantíssimo desde o ensino médio. Além de falar bem, o raciocínio rápido é testado com alguma frequência. É comum, assim, um estudante ser sorteado para defender a escravidão que vigorou no país até o século 19 contra um colega que irá atacá-lo num duelo verbal. Tudo isso faz parte de um processo educacional que tenta mostrar a crianças e adolescentes o quanto é importante se comunicar bem.

Essa cultura produziu, por exemplo, Dale Carnegie, que ministrou vários cursos de oratória e vendas. Carnegie percebeu, no início do século 20, que a classe média emergente das grandes metrópoles americanas precisava se comunicar bem para subir na hierarquia das empresas. Seu livro, “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, ridicularizado por muitos intelectuais, foi publicado em 1936 e vendeu mais de 30 milhões de exemplares até hoje. É uma amostra de como os americanos se preocupam com a auto imagem e oratória como o caminho da prosperidade.

O próprio Carnegie é um exemplo disso. Nascido numa cidadezinha do Missouri, era o aluno mais pobre de sua escola. Mas, usando o poder da retórica, chegou à faculdade e tornou-se um vendedor habilidoso do frigorífico Armour. Estabelecido em Nova York, criou um curso para treinar executivos em suas habilidades de comunicação. Criou o “Dale Carnegie Training”, franqueado para mais de 80 países. Detalhe: essas franquias existem até hoje, 65 anos após a morte de Carnegie.

Já que praticamente todo mundo está em casa e com tempo para investir em educação à distância, é hora de gastar algumas horas para trabalhar a própria oratória. Você está vendendo bem o seu peixe através da videoconferência? Se está, no que poderia melhorar? É a hora de aproveitar as milhares de horas de cursos gratuitos que estão à disposição na internet e melhorar a sua lábia, seja você um executivo ou um empresário. Aliás, os empresários precisam se virar como nunca. Ninguém nunca pensou que poderia fazer prospects através do Skype, Zoom ou Webex. Mas é o que está acontecendo.

Mas, cuidado: um tipo de discurso pode funcionar muito bem durante o almoço de negócios, mas essa abordagem seria adequada quando se tem, digamos, vinte minutos diante de uma tela de computador? Talvez não. Por isso, cada um de nós precisa, de agora em diante, de exercer uma honestidade brutal e avaliar como tem se comunicado desde que começou a pandemia.

Esse esforço não será em vão. Mesmo com o fim do isolamento social, as ferramentas de reuniões à distância entrarão em nosso dia a dia. Aquele cliente em potencial que fica em outra cidade, por exemplo, e seria visitado por avião, vai aceitar conversar através do computador ou do smartphone. Por isso, a fase “straight to the point” vai continuar após o final da pandemia. Mas será preciso tato para não ser rude ou seco demais na objetividade que passará a fazer parte de nossas vidas.

As videoconferências retiram de nossas vidas o contato direto com os interlocutores, reduzindo as possibilidades de utilizar ferramentas como a empatia e criar vínculos que excedam uma simples transação. É como diria Peter Drucker: “a coisa mais importante na comunicação é ouvir aquilo que não está sendo dito”. Seguir o conselho de Drucker é algo dificílimo já numa conversa ao vivo. O que dizer de um colóquio através de uma telinha em formato 16:9? Complicado, mas não impossível.

Aos céticos de plantão, fica a pergunta: você se imaginava trancado em sua casa durante dois meses? Seguramente não. Mas foi o que aconteceu nos últimos 60 dias. Portanto, os seus limites e barreiras são muito flexíveis do que sua imaginação poderia sugerir. Neste cenário, faz sentido achar que é impossível ampliar a empatia com seus interlocutores num ambiente on-line? Vamos lá. Nessa situação, temos pouco a perder além daquilo que já foi pelo ralo. Daqui para a frente, é melhor colocar o foco naquilo que pode ser melhorado. Pois, em algum momento, toda essa loucura vai acabar.

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Comentários

Uma resposta

  1. Pois é, eu mesmo estou enfrentando esses múltiplos desafios. Preciso aprender muito com essa forma direta e objetiva de se comunicar, sou professor e nesses ambientes virtuais o tempo não é o mesmo do presencial, tem que ser direto, pontual e correto,não te deixa voltar atrás ou deixar para depois.

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