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Guerra comercial pode afetar crescimento do PIB global

Na última terça-feira (4), o Banco Mundial revisou para baixo sua previsão para o desempenho do PIB global em 2019. De acordo com a edição mais recente do relatório “Perspectivas Econômicas Globais”, a economia mundial vai crescer 2,6% neste ano. No começo de 2019, a instituição projetava um crescimento de 2,9%. Na quarta-feira (5), foi a vez de a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, demonstrar pessimismo com os rumos da economia global. Segundo a francesa, a guerra comercial entre Estados Unidos e China pode representar um impacto negativo de 0,5% no PIB do planeta em 2020, o equivalente a US$ 455 bilhões.

O cenário desenhado por algumas das principais instituições financeiras dos EUA também não é dos mais promissores. Economista-chefe do Morgan Stanley, Chetan Ahya afirmou em relatório que a imposição de tarifas por parte do governo americano sobre os US$ 300 bilhões em produtos chineses que ainda não foram taxados pode levar a uma recessão global em nove meses. Segundo o JP Morgan Chase, a chance de o PIB dos EUA recuar dois trimestres seguidos nos próximos semestres subiu de 25% para 40%.

Na opinião de analistas ouvidos por MONEY REPORT, o risco de uma nova recessão global é real, impulsionado pelo acirramento da disputa comercial entre as principais economias do planeta. Para os economistas que conversaram com a reportagem, um novo período de turbulência no cenário mundial iria adiar a retomada do crescimento econômico no Brasil. Porém, os efeitos de uma eventual crise seriam mitigados com a realização das reformas econômicas discutidas pelo país.

“O primeiro efeito da guerra tarifária é o aumento da insegurança dos empresários, que esfriam a atividade econômica ao postergar investimentos”, afirma Otto Nogami, professor de economia do Insper.

Em segundo lugar, a alta nos impostos alfandegários encarece os custos de produção, piorando o resultado financeiro das empresas, que repassam parte do prejuízo para o consumidor. Um exemplo disso é a inflação americana medida pelo índice PCE, que, apesar do resultado modesto, acelerou 0,1 ponto percentual em abril, para 0,3%, fazendo o nível geral de preços subir para 1,5% no acumulado dos últimos 12 meses.

“A conjunção de fatores negativos pode levar a uma reação em cadeia, derrubando companhias e levando a economia para baixo”, analisa Nogami.

No que diz respeito à atividade econômica, alguns sinais de desaceleração têm sido enviados. As taxas que o presidente americano, Donald Trump, impôs sobre US$ 250 bilhões em produtos chineses ainda não afetaram severamente o PIB dos EUA, que cresceu 3,1% no primeiro trimestre, bem acima da alta de 2,3% estimada pelo mercado. Por outro lado, o impacto já é sentido no país asiático. Segundo o jornal South China Morning Post, o governo da China prevê que a guerra comercial pode tirar até um ponto percentual do PIB chinês – o FMI projeta avanço de 6,2% em 2019. Nos Estados Unidos, o maior motivo de preocupação nos últimos dias foi a divulgação do relatório prévio dos dados do mercado de trabalho, que apontou criação de apenas 27 mil novas vagas em maio, abaixo dos 173 mil novos empregos previstos por analistas consultados pelo Wall Street Journal.

No entanto, o principal indicador de que a economia americana pode estar a caminho de uma nova recessão está no mercado financeiro. Assim como ocorreu em períodos que antecederam crises passadas, o rendimento dos títulos do Tesouro americano no longo-prazo (10 anos) está abaixo do rendimento no curto-prazo (três meses no caso), indicando uma queda nas taxas de juros para o futuro. “Esse recuo mostra que o mercado já antevê uma piora na economia”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Estatisticamente, os EUA têm entrado em recessão um ano após a inversão da curva de juros”, completa. Hoje, a diferença se encontra em 0,21 ponto percentual.

Em um mundo globalizado, a crise nas duas superpotências teria impactos significativos sobre a atividade econômica mundial. Fundamental para os países emergentes, a China é, por exemplo, o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2018, o resultado da balança comercial foi positivo para a economia brasileira em US$ 29,5 bilhões, com as exportações subindo 35,2% na comparação com 2017, para US$ 64,2 bilhões, enquanto as importações avançaram 27,1%, para US$ 34,7 bilhões. Além de diminuir o nível do comércio global, uma recessão generalizada afetaria os investimentos, com os empresários temerosos em relação ao futuro. Esse efeito, inclusive, atrapalharia os planos do governo Bolsonaro, que conta com a entrada do capital estrangeiro após a aprovação da reforma da Previdência para impulsionar o PIB.

Entretanto, o país pode resistir a esse cenário caso siga a agenda liberal. “A aprovação das reformas previdenciária e tributária, além do incentivo às concessões e privatizações, viabilizaria a construção de uma história positiva para o Brasil no exterior”, afirma Sergio Vale. “Este ano e o próximo tendem a ser complicados para o país. Porém, se fizermos a lição de casa, estaríamos prontos para colher os frutos a partir de 2021”.

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