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O velho truque de bombar as vendas da linha branca

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou seus ministros – em especial, a titular do Planejamento, Simone Tebet – que deseja ver um programa para que os brasileiros possam comprar novos equipamentos de linha branca. A ideia pegou de surpresa especialmente o ministro Fernando Haddad, que busca manter as contas públicas sob controle – e a única forma de oferecer descontos para geladeiras, por exemplo, é desonerar esses produtos. Haddad já ponderou que a hora seria ruim para promover esse tipo de incentivo. Mas Lula não desistiu e pediu aos seus auxiliares que considerassem a possibilidade para implementá-la em um futuro próximo.

A ministra Tebet, contudo, não se entusiasmou com a ideia. E disse ontem: “O mais importante e primordial para que isso aconteça é, antes, acontecer o Desenrola [o programa de negociação de dívidas do governo]. As famílias estão endividadas, então não adianta lançar uma linha branca com desconto. As pessoas não vão comprar ou vão pedir empréstimos com juros caríssimos”.

Na verdade, Lula quer apenas reviver uma ideia criada durante a gestão de Dilma Rousseff. Nos anos em que Dilma esteve no poder, o governo desonerou a indústria em quase US$ 500 bilhões, ampliando o déficit que desarrumou os cofres federais. E um dos principais setores beneficiados na época foi justamente o de eletrodomésticos. Além de retirar impostos sobre esses equipamentos, Dilma também criou linhas de financiamento especial operadas pela Caixa Econômica Federal, com juros de 5 % o ano e 48 meses para pagar.

Ocorre que esse é um truque que funciona durante pouco tempo e não tem como ser renovado.

Dentro da chamada linha branca, os produtos são bens de consumo duráveis. Muitas famílias passam mais de dez anos (ou mesmo vinte) com a mesma geladeira e o mesmo fogão. E, se tudo estiver funcionando normalmente, não se empolgam em trocar esses equipamentos mesmo que eles estejam ultrapassados em tecnologia e em design.

Em 2015, quando o então ministro Guido Mantega percebeu que a atividade econômica estava emperrando, chamou os principais banqueiros do país para uma reunião. Expôs que, após um crescimento de vendas na linha branca, o setor – que tem importância no cálculo de crescimento do Produto Interno Bruto – estava estagnado.

Mantega, então, pediu ajuda aos bancos para que criassem novas linhas de financiamento para reaquecer o mercado. Depois de um silêncio constrangedor, um dos diretores de banco ponderou que ninguém troca de geladeira dois ou três anos depois da compra. A ideia, assim, morreu naquele instante para o setor privado. Mas Caixa e Banco do Brasil ainda ofereceram linhas de crédito específicas para a compra de eletrodomésticos.   

O governo quer mesmo que a atividade econômica dê um salto?

Não precisa apelar para a heterodoxia. Basta dar um recado claro ao mercado financeiro de que aos cofres públicos vão ser bem geridos e que não haverá novas tentativas de se elevar as despesas estatais. Com isso, os juros cairão mais rapidamente o Banco Central poderá promover uma diminuição de taxas a um ritmo mais rápido do que aquele que se planeja atualmente.

Diante de um cenário mais próximo do ideal, os empresários seguramente vão investir novamente, aumentando a oferta de produtos, diminuindo os preços do varejo. Se isso ocorresse, a inflação sofreria pressão para baixo – e os juros seguiriam essa tendência de queda.

Ocorre que esse é um governo do PT. E, dentro deste panorama, enxerga-se apenas alternativas que aumentam os gastos públicos. Ou seja, para aquecer o mercado, o governo vai querer tirar alguns coelhos da cartola, como essa ideia de impulsionar as vendas de eletrodomésticos. Enquanto o Planalto flertar com a heterodoxia econômica, porém, viveremos uma queda de braço entre autoridades e empresários.

Lula precisa ouvir mais o setor produtivo, como fez em seu primeiro mandato. E deixar de lado o receituário de Dilma Rousseff. Se não quiser reinventar a roda, a economia encontrará sozinha seu caminho de crescimento – e todos sairão ganhando.

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