Nesta semana, o ministro Paulo Guedes cometeu duas incontinências verbais. Não há a necessidade de repeti-las, pois ambas ocuparam as manchetes dos jornais e foram o estopim de várias discussões digitais. Como sempre, a imprensa foi apontada como culpada por ter destacado declarações fora do contexto. Mas, registre-se, as falas infelizes foram ditas de fato. Tanto é que, uma delas, a primeira, motivou um pedido público de desculpas por parte do titular da Economia.
Entre a comunidade empresarial, houve as minimizações de praxe – algo na linha “pisou na bola, mas tem crédito”. De fato, o ministro está realizando um trabalho de longo prazo, preparando o Brasil para um crescimento econômico forte nos próximos anos. Este esforço ainda não rendeu resultados imediatos, com o desemprego ainda alto e a atividade econômica sem a aceleração desejada, mas deve render frutos em breve.
No entanto, é necessário perguntar: como um economista vivido como Paulo Guedes, com 70 anos de idade, cai na esparrela de dar duas declarações públicas infelizes em sequência? Nos dois casos, o ministro não foi provocado por uma claque irrequieta e agressiva, como no depoimento à comissão de deputados, durante a qual sapecou o imortal “tchutchuca é a mãe” (neste caso, a paciência do ministro, diga-se, foi posta à prova por horas antes da explosão).
Há quem credite esses arroubos ao estresse. Outros a um eventual descontentamento com o comportamento do Planalto em relação à Reforma Administrativa. Qualquer que seja a razão, uma coisa é líquida e certa: o ministro é uma figura pública e, como tal, deve pensar duas vezes antes de falar qualquer coisa. Ele está sob os olhos da Nação. Cada movimento seu é analisado, escrutinado e divulgado. Portanto, essas afirmações recentes não são aceitáveis, apesar de todo o crédito que Guedes possa possuir.
Aos empresários e executivos, é o caso de se questionar: ao longo de sua vida, quantos sapos você engoliu em nome de seu negócio ou de sua carreira? Inúmeros. Para defender algo importante, os homens de negócios passam por cima da vaidade num piscar de olhos – até porque boa parte dos insucessos corporativos se deve não necessariamente a fenômenos de mercado, mas ao comportamento dos líderes das companhias que fracassam.
Pois bem. O homem público tem diariamente mais sapos a engolir que provavelmente um empresário durante um ano inteiro. Não é uma vida fácil. Pelo contrário. É necessária uma abnegação reservada a poucas pessoas. Entende-se, assim, os momentos em que declarações infelizes são dadas, especialmente pela personalidade de Paulo Guedes (que não vai mudar). Mas há um ponto importante: sapos precisam ser engolidos. Palavras devem ser medidas. Declarações necessitam de uma avaliação prévia. Essas são as regras do jogo.
Agora, é hora de virar a página. E torcer para que o ministro deixe os momentos de sincericídio para eventos fechados ou conversas particulares – sem a presença de imprensa. O mar da economia já está sacudido. As ondas estão fortes. O único que não pode sacudir o barco é justamente seu timoneiro.