O Ministério da Saúde propôs reduzir o isolamento social em cidades e estados que disponham de metade dos leitos e estrutura de saúde ainda vagos, numa mudança inesperada em relação à estratégia inicial. Essa medida valeria a partir da semana que vem.
Muitos analistas políticos se precipitaram para enxergar nessa mudança um dedo do presidente Jair Bolsonaro, que quer o retorno imediato das pessoas ao trabalho e reativar a economia parada para evitar desemprego e recessão.
Em que pese a vontade do presidente, que aparentemente se entendeu momentaneamente com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, há outra razão para essa mudança de orientação.
A primeira seria o ritmo de contaminação, bem inferior ao esperado inicialmente. O segundo é o reduzido número de municípios com casos de contaminação: cerca de 400, diante de um total de 5 571. Essa estatística também está abaixo das projeções iniciais. Por fim, Mandetta acha que é necessário começar a discutir as regras para a saída do shutdown, pois em algum momento o confinamento será finalizado.
Autoridades médicas ouvidas por MONEY REPORT dizem que o governo usou a mesma lógica que sugeriu a quarentena para decidir uma flexibilização por municípios. Se o lockdown foi criado para que não houvesse um colapso no sistema de saúde, então as cidades que têm infraestrutura de saúde com superávit de leitos poderiam relaxar as regras de isolamento social.
O índice usado pelo Ministério da Saúde, de 50 % de leitos sobrando, no entanto, pode gerar controvérsias. Como há o perigo de contaminação exponencial, metade dos leitos vazios de hoje podem representar pouco num crescimento rápido da pandemia nos municípios.
Em tese, o estado de São Paulo se encaixaria no perfil das localidades que poderiam sofrer um relaxamento de regras a partir da semana que vem. São cerca de 2 500 casos oficiais contra mais de 27 000 leitos disponíveis. Mas há um problema: a grande concentração populacional e a dependência em relação ao transporte público são fatores que podem turbinar o contágio caso haja uma liberalização da quarentena. Assim, os especialistas acreditam que a flexibilização pode ser implementada em cidades médias e pequenas – mas não em metrópoles.
A divulgação dessa medida veio no mesmo dia em que o governador João Doria anunciou a extensão da quarentena até o dia 22 de abril. A preocupação de Doria é evitar a circulação de pessoas durante o período no qual se prevê o pico das internações hospitalares, previsto para a próxima semana. Se a flexibilização planejada pelo Ministério ocorrer em solo paulistano, assim, o volume de novos casos poderá explodir. Portanto, espera-se que as medidas do Ministério sejam implementadas primeiro nas cidades pequenas, deixando os grandes centros urbanos por último.