Queda de 13% nos ganhos em 2024 reflete impacto do setor imobiliário, consumo enfraquecido e desaceleração industrial; cenário é o pior desde 2000
O lucro líquido de cerca de 5.200 empresas de capital aberto na China recuou 13% em 2024 na comparação com o ano anterior, marcando a primeira queda consecutiva desde 2000, segundo levantamento divulgado nesta quarta-feira (30) pelo Nikkei Asia. A prolongada crise no setor imobiliário chinês foi apontada como um dos principais fatores para a deterioração dos resultados corporativos.
O setor imobiliário, que representa cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segue impactando negativamente diversos segmentos da economia. A gigante incorporadora Vanke, por exemplo, registrou um prejuízo líquido de 49,4 bilhões de yuans (equivalente a US$ 6,79 bilhões), impulsionado por mais de 30 bilhões de yuans em perdas com ativos.
O prejuízo líquido agregado do setor imobiliário alcançou quase 160 bilhões de yuans em 2024, uma disparada em relação às perdas de 13,5 bilhões de yuans registradas em 2023. Entre 45 siderúrgicas listadas, 38 fecharam o ano com prejuízo ou forte queda nos lucros. Já o setor de materiais de construção amargou uma queda de quase 50% no lucro líquido.
O consumo pessoal, que vinha mostrando resiliência, também apresentou sinais de enfraquecimento. Os setores de hospedagem e alimentação registraram queda de quase 20% nos lucros. A indústria automobilística, foco de incentivos do governo de Xi Jinping, também mostrou desaceleração. Apesar de uma alta de 11% nos lucros das montadoras e fabricantes de peças, o crescimento foi bem inferior aos quase 50% observados em 2023.
A montadora BYD, principal fabricante de veículos elétricos da China, respondeu sozinha por cerca de 30% do lucro total do setor, evidenciando uma concentração crescente no mercado. A taxa de utilização das fábricas automotivas manteve-se em 72% no ano passado e no primeiro trimestre de 2025, abaixo do patamar saudável de 80%.
O governo chinês lançou medidas de estímulo que contribuíram para uma alta de 4% nos lucros das empresas de capital aberto no primeiro trimestre deste ano, com destaque para os setores de materiais de construção e máquinas. Ainda assim, o cenário segue incerto. Exportadores demonstraram cautela em abril diante do risco de aumento das chamadas “exportações deflacionárias” — envio de excesso de estoques a países terceiros, em resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos —, o que pode ameaçar o equilíbrio da economia global.