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Haddad tenta sintonia com o mercado financeiro

Ontem, o ministro Fernando Haddad encontrou-se com representantes do mercado financeiro em evento organizado pelo BTG Pactual. Ele chegou ao auditório no meio do primeiro painel, um debate entre gestores de recursos, que comentavam as tendências das taxas de juros pelo mundo e, evidentemente, no Brasil. Haddad sentou-se e, em determinado momento, começou a fazer anotações.

Um dos debatedores, Rogério Xavier, fundador da SPX Capital, não poupou a língua. Primeiro, disse que a meta de inflação estava errada e que deveria ser corrigida (uma ideia refutada por Haddad; o ministro acredita que esse reajuste poderia engatilhar uma expectativa maior de inflação e inchar os índices de preços). “A gente colocou uma meta de inflação que não vai se materializar. Por que perseguimos um objetivo inalcançável?”, questionou.

Logo após, Xavier fez uma provocação sobre a razão pela qual os juros estão altos . “Ninguém tem coragem de dizer ao ministro Haddad que não sente segurança fiscal no que está sendo proposto. Este é o motivo, não a meta de inflação”, cutucou. O auditório, em resposta ao fundador da SPX, explodiu em aplausos.

Findo esse painel, Haddad subiu ao palco com serenidade. Defendeu algumas bandeiras de campanha em tom conciliador, bem diferente do timbre usado no comício de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Anunciou que vai divulgar em março as novas regras fiscais e deu duas pistas. “Estamos partindo do princípio que a indústria paga mais impostos que os demais setores da economia”, afirmou. “E que os pobres pagam mais tributos que os ricos”.

Traduzindo: quem vai pagar pela reforma tributária deve ser, pelo lado empresarial, o setor de serviços e, pelas pessoas físicas, a camada mais rica da população. Os estados, pelas ideias que estão sendo debatidas no Ministério da Fazenda, também deverão arcar com um pedaço da conta.

O ministro reconheceu que os juros atuais estão bastante altos. “Com oito por cento de taxa real, de fato, é difícil navegar”, admitiu. Ele pediu, no entanto, tempo para colocar os juros nos eixos, ressaltando que a autoridade fiscal (ele) precisa falar com a autoridade monetária (Roberto Campos Neto, presidente do BC) e trocar cartas.

Haddad saiu do palco e entrou Flávio Dino, que foi entrevistado pelo ex-ministro Nelson Jobim. Logo ao início, Jobim perguntou a ele como preferia ser chamado: “Flávio”, respondeu o titular da Justiça. A partir daí, então, Jobim passou a chamá-lo pelo primeiro nome; Dino, porém, chamou-o de “ministro” o tempo todo.

O ministro da Justiça citou Antonio Gramsci, o filósofo adorado pelas esquerdas, e sapecou algumas palavras pouco utilizadas no dia a dia, como “heteronormativo” e “imediatidade”. Relativizou o chamado ativismo judicial e disse que esse movimento foi causado por um vácuo de autoridade existente nos outros poderes (nessa hora, os semblantes da plateia mostraram claramente que discordavam do ministro).

Saiu Dino e entrou Arthur Lira, que começou falando em pacificação — como, aliás, já tinha feito em seu discurso de vitória quando foi reconduzido à presidência da Câmara Federal. Logo de início, deixou claro que tinha a maior simpatia pelo trabalho do ministro da Fazenda. “O ministro Haddad é um dos melhores exemplos de diálogo dentro do governo”, disse.

Balanço da conversa? Haddad tenta estabelecer uma sintonia mais forte com o mercado financeiro, que prefere seu nome ao de um Aloizio Mercadante no comando da economia. Além disso, conta com a simpatia do presidente da Câmara, Arthur Lira, para promover reformas. Só não chame Lira para operações ligadas à cartilha da esquerda, como reverter privatizações, reformas já aprovadas ou a independência do Banco Central. O presidente da Câmara deixou bem claro em seu painel, moderado pelo cientista político Murillo de Aragão: nenhum projeto com tintas radicais será aprovado pelos deputados.

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Comentários

Uma resposta

  1. Parece que o Haddad teve a elegância de não relembrar ao presidente de fundo que os juros andavam na estratosfera há tempos e que passamos quatro anos com o dólar sobrevalorizado porque o mercado financeiro não botava fé na política econômica, nem na gestão fiscal do governo anterior.

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