O mercado editorial científico é um negócio gigantesco, restrito, internacional e desconhecido dos leigos. Para um pesquisador publicar em uma revista renomada, pode gastar até US$ 5 mil. Não há garantia alguma de veiculação, pois o material precisa ser apreciado por outros profissionais. Mas pelo menos o trabalho é avaliado pelas mentes certas e de forma independente, o que garante isenção e critério. Agora, com a pandemia de coronavírus, essas plataformas começam a abrir seu material gratuitamente, a fim de garantir o acesso ao maior número possível de pesquisadores ao redor do mundo. Até estudos ainda não revisados (os preprints) estão ficando disponíveis.
Na epidemia de Sars, entre 2002 e 2003, ocorreu um movimento parecido. Um levantamento da DW, a estatal alemã de jornalismo e comunicação, informa que um acordo entre 117 editoras científicas, assinado em 31 em janeiro, permitiu o acesso aos artigos já publicados e aos que estão em avaliação (preprints). Com isso, pesquisadores podem avaliar trabalhos que antes demorariam até um ano para serem divulgados. O pacto foi organizado pela Fundação Welcome Trust. A reportagem da DW relata que só plataforma MedArchive registrou 680 artigos sobre o coronavírus desde 19 de janeiro, com estudos de casos e análises sobre os padrões de disseminação do surto, agora transformado em pandemia. Signatária da Welcome Trust, a prestigiada editora britânica The Lancet liberou 148 estudos sobre coronavírus até o último sábado (21).
Ainda assim, é estimado que mais de a metade dos artigos publicados desde 1960 não estejam disponíveis.
“Apelamos à comunidade científica – publishers, financiadores e sociedades – para que se mantenham fiéis à sua palavra. A declaração do Wellcome Trust é inequívoca: o compartilhamento rápido da pesquisa é necessário para informar o público e salvar vidas. Enquanto aplaudimos o trabalho que está sendo realizado em meio a esta crise, esperamos que este momento sirva como catalisador de mudanças”, expôs um artigo assinado pelos cientistas Vincent Larivière (Canadá), Fei Shu (China) e Cassidy Sugimoto (Estados Unidos).
O efeito colateral da iniciativa é a disseminação de informações mal-entendidas por leigos. Foi o que fez com que muitas pessoas fossem em busca dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina. Utilizados contra malária, lúpus e artrite reumatoide, ambos são uma esperança de cura ou alívio dos sintomas do covid-19. Porém, ainda faltam estudos conclusivos. Esses medicamentos só podem ser receitados com acompanhamento médico, pois seus efeitos colaterais são severos, portanto estão longe de serem uma cura imediata.