É uma implicância, eu sei. Não há regra gramatical que condene essa prática. Mas eu não suporto ver alguém falando de si mesmo na terceira pessoa. Hoje, na Folha de S. Paulo, há um exemplo disso. Um colunista que, ao analisar sua carreira e relação com o jornal, que completa cem anos, utiliza apenas a terceira pessoa, como se narrasse a trajetória de um personagem estrelado. Tenho verdadeira ojeriza desse recurso narrativo. Passa, antes de mais nada, um pedantismo fora do comum.
A primeira vez que ouvi algo do gênero foi ao assistir uma entrevista de Edson Arantes do Nascimento, na qual ele respondia algumas perguntas dizendo “O Pelé acha que…”. Mais tarde, li um artigo do próprio Rei do Futebol explicando que usava esse truque porque ele era o “Edson”, enquanto “Pelé” era uma personagem. Qualquer que seja a explicação, acaba soando como soberba. Melhor evitar.
Na última Copa do Mundo, o treinador da seleção soltou uma dessas durante uma coletiva: “O Tite chorou”. Nessa frase, há claramente a manifestação de que o técnico Adenor Bachi se julgava alguém tão importante em 2018 que deveria ser mencionado como se fosse um terceiro. Lamentável (e depois, como se viu, os brasileiros é que acabaram chorando com a eliminação diante da Bélgica).
Voltando ao artigo de hoje: evidentemente, não sou contra artigos opinativos, pois faço isso todos os dias. Muito menos autobiográficos. Uso exemplos da minha vida a torto e a direito para escrever minha coluna diária. Mas jamais uso a terceira pessoa, simplesmente porque não sou importante assim. O jornalista é um narrador da história; quando muito, um personagem secundário. Mas nunca o protagonista.
Quando lembro de alguma história da minha vida, há sempre uma razão para isso: uma conexão com o assunto que desejo discutir. Todos nós, principalmente os jornalistas, temos o desafio diário de lutar contra nossa vaidade. Muitas vezes, perdemos essa batalha. Mas, quando usamos a terceira pessoa do singular para falar de nós mesmos, é sinal de que perdemos de vez essa guerra.
Por isso, aqui vai a sugestão de quem escreve há mais de trinta anos e analisa o comportamento de políticos, economistas, executivos e empresários: nunca use a terceira pessoa para falar de si mesmo.
Respostas de 4
Não leia o último livro do Nelson Motta.
Além de usar um personagem Nelsinho, o texto fica a desejar.
Meu amigo, afirmo que há uma sabedoria tremenda por trás disso, deixo uma observação para reflexão, Jesus Cristo se referia a si em terceira pessoa!
Interessante demais! Era tipo que ele queria contar uma história sem citar seu nome era um forma de humildade.
Sou do “time” que não suporta isso! Basta falar eu gosto, eu não vou… Qual a dificuldade insana disso?