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ENFOQUE-CEO da Eletrobras sofre forte pressão antes de votação sobre venda de distribuidoras

Por Luciano Costa e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – O presidente-executivo da Eletrobras, Wilson Ferreira Pinto Jr., que tem liderado a maior elétrica da América Latina em meio a planos do governo de privatizar a companhia e suas seis subsidiárias de distribuição de eletricidade, vem sofrendo pressões crescentes dentro e fora da companhia para deixar o cargo.

A eventual saída do executivo, que já foi apontada por analistas como um risco aos planos do governo de diluir sua participação na Eletrobras, em um processo de desestatização previsto para este ano, também poderia dificultar a negociação das distribuidoras, em um leilão agendado para o próximo mês.

O movimento contra o CEO é capitaneado por partidos de oposição ao presidente Michel Temer e sindicatos, que realizaram uma greve na semana passada pela saída do principal executivo da empresa.

Mas nos bastidores há até nomes da base aliada do governo que atuam contra o executivo, disseram à Reuters diversas pessoas com conhecimento do assunto.

A situação reflete-se na própria empresa, onde Ferreira já tem enfrentado um clima pesado e dificuldade para emplacar suas vontades, segundo uma das fontes, que falou sob a condição de anonimato devido à sensibilidade do tema.

Na quarta-feira, por exemplo, uma cerimônia interna para comemorar 50 anos da subsidiária Eletrosul foi alvo de protesto de alguns funcionários contra a privatização, que levaram ao evento um homem com uma fantasia amarela de um pintinho, em referência à campanha “Fora Pinto!”, liderada por sindicalistas.

Numa mostra da tensão que ronda a estatal, o que poderia ser uma manifestação bem-humorada quase terminou em confusão: o manifestante interrompeu um discurso de Ferreira aos gritos e ambos discutiram por quase um minuto no palco antes que terceiros interferissem para permitir a continuidade do evento.

“Essa pressão está acontecendo há bastante tempo, tanto internamente quanto externamente… ele está completamente isolado… o poder de decisão dele interno já não é muito grande”, disse à Reuters uma fonte com conhecimento da situação.

Mas a forte pressão dos funcionários tem encontrado algum eco em alas do partido de Temer com tradicional influência sobre o setor elétrico, de acordo com as fontes.

A intensidade do movimento está ligada à promessa do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de votar com urgência na Casa um projeto de lei visto como essencial para viabilizar a venda das distribuidoras da estatal, que operam em Estados do Norte e Nordeste, e à chegada das eleições de outubro.

A fonte adicionou que o ex-presidente José Sarney (MDB) já chegou a cogitar nomes para o lugar de Ferreira, enquanto o senador Eduardo Braga (MDB-AM) também pressiona pela saída por ser contra a venda da distribuidora de energia da Eletrobras no Amazonas.

“Quem está mais contra são alguns senadores, que são aqueles que costumam indicar para cargos nas distribuidoras”, disse uma fonte da Eletrobras, que falou sob a condição de anonimato.

As distribuidoras da estatal já foram apontadas até por técnicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como “cabide de empregos para apadrinhados políticos” e muitas sofrem com excesso de pessoal, conforme publicou a Reuters ainda em 2016.

Procurada, a Eletrobras afirmou que os manifestantes agiram “de maneira extremamente desrespeitosa”, enquanto a Eletrosul divulgou uma nota de repúdio em que defendeu que Ferreira “sempre pautou suas ações pelo diálogo” e qualificou o protesto como “autoritário”.

RESISTÊNCIA

O presidente Temer, no entanto, não deu sinal até o momento de que cederá às pressões para substituir o presidente da Eletrobras, de acordo com uma fonte do Planalto.

“As pressões vêm de gente que não quer a privatização ou acha que em ano eleitoral é complicado falar disso”, afirmou a fonte.

Um fator que tem pesado a favor da permanência de Ferreira, de acordo com uma outra fonte, é a forte reação do mercado e de investidores após Pedro Parente ter pedido demissão da presidência da Petrobras no final de maio, também sob forte pressão política e de sindicalistas.

“Depois que o governo ficou fraco, houve um ataque muito grande do mundo político… mas é muito difícil para o governo tirá-lo, é um gesto que teria um significado muito grande”, afirmou uma pessoa próxima de Ferreira.

“Ele está firme… pelo que conheço dele, ele irá segurar as pontas”, afirmou a fonte, para quem o executivo seguirá na estatal até o final de seu mandato, a não ser que seja demitido.

Ex-presidente da privada CPFL Energia, Ferreira assumiu o comando da Eletrobras em julho de 2016 para um mandato que já tinha como uma das principais bandeiras a venda das deficitárias distribuidoras de energia da estatal.

Pouco mais de um ano depois, em agosto de 2017, o governo anunciou os planos de privatização da companhia como um todo.

A Eletrobras ressaltou em nota que desde a posse de Ferreira a companhia teve um corte de custos de 20 por cento, além de redução significativa no endividamento. No período, o valor de mercado da elétrica saltou de 9 bilhões para cerca de 19 bilhões de reais atualmente.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília)

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