Alguém já perdeu tempo com essa fantasia boba? Eu já. Seguidas vezes. Da infância à maturidade, devaneei sobre isso tantas vezes que até perdi a conta. Sei que não é exatamente um tema profundo de reflexão. Mas, muitas vezes, me pego pensando sobre eventuais poderes que tornariam minha vida mais fácil – ou divertida.
Super-heróis parecem ser algo restrito apenas a crianças e adolescentes. Mas, segundo uma pesquisa divulgada pelo site Statista, os filmes dos estúdios da Marvel têm naqueles com mais de 55 de anos um público fiel. No caso da série “Homem de Ferro”, esses indivíduos são responsáveis por 33 % dos tickets vendidos; já em relação às séries “Thor” e “Vingadores”, os mais velhos respondem por 26 % da audiência.
Talvez esses números tenham a ver com o fato de que a vida útil destes super-heróis, surgidos no universo dos quadrinhos, seja bastante longa. A Marvel, por exemplo, foi fundada em 1939, enquanto a DC Comics, criadora de personagens como Super-Homem e Batman, surgiu em 1934. Ou seja, muitos dos espectadores destes filmes recentes conheceram estes papéis em suas infâncias e se mantiveram fãs desde então.
O primeiro herói com o qual me identifiquei foi o Homem-Aranha. Comecei a ler seus gibis com doze anos. Peter Parker era um adolescente como eu e ganhava seus poderes após ser picado por uma aranha radioativa. Os roteiros seguiam uma linha diferente do que era comum na época, pois dedicavam boa parte da história à vida civil do personagem, experimentando situações típicas da adolescência. Ainda nesta época, notei que o criador destes personagens, Stan Lee, deve ter se apropriado inconscientemente de algumas ideias que viu na infância.
Adorava os exemplares em que o Aranha enfrentava o vilão Dr. Octopus, um cientista brilhante, que se locomovia com tentáculos, já que era deficiente físico. Bem, qual foi a minha surpresa ao ver, na antiga TV Tupi, um seriado produzido para o cinema em 1938, chamado “A Teia do Aranha”. O personagem principal era um detetive que se fantasiava com uma máscara e capa decorados com um desenho que lembra o de uma teia aracnídea. Seu inimigo era um sujeito encapuzado, com uma perna mais curta que a outra, chamado… Dr. Octopus.
Voltando à fantasia antiga – aquela de ter superpoderes. Ultimamente, sonho em ter cinco:
PAUSAR O TEMPO – Conforme ficamos mais velhos, percebemos que o tempo vai passando mais rapidamente do que gostaríamos. Fiz uma viagem de dez dias que terminou na quarta-feira e tive a sensação de que passou voando. Eu poderia jurar que, duas semanas atrás, estávamos em maio. Mas estamos às vésperas de terminar mais um ano. Se eu tivesse a habilidade de pausar o tempo, poderia aproveitar melhor as oportunidades que a vida oferece, até porque, ultimamente, precisaria de 28 horas por dia para conseguir fazer tudo o que preciso.
CONTROLE ABSOLUTO SOBRE O SONO – Gostaria de poder dormir a hora que quisesse, sem sofrer as agruras da privação de repouso. E poder estabelecer quantas horas eu poderia dormir, sempre acordando com bom humor e descansado. Preciso trabalhar até tarde da noite e acordar super cedo? Sem problemas. É só acionar este superpoder.
ADIVINHAR O NOME DAS PESSOAS – Tenho uma memória admirada pelos amigos. Mas, muitas vezes, reencontro pessoas que não vejo há anos. São justamente aquelas que lembram não só do meu nome como o de toda a família. Por isso, gostaria de ter o poder de olhar para os outros e saber o nome de todos. Sinto um certo desespero de não reconhecer aqueles com quem já estive.
FILME NA MEMÓRIA – Se fosse escolher apenas um superpoder, este seria o ungido. Gostaria de ter toda a minha memória disponível em arquivos de filme. Poder rever certas ocasiões da minha vida segundo por segundo. Exemplo: rebobinar uma visita que fiz à rua Augusta quando criança e o asfalto tinha sido totalmente acarpetado. Ou reviver, tintim por tintim a primeira vez que comi um hambúrguer, aos seis anos de idade, em uma lanchonete perto do aeroporto de Congonhas.
FIM DAS AGRESSÕES POLÍTICAS – Este superpoder seria bem-vindo nos dias de hoje, quando qualquer discussão política vira um festival de pancadaria (virtual ou real). Se minha fantasia se tornasse realidade eu teria a capacidade de transformar cada briga em uma discussão civilizada. Talvez, desse jeito, boa parte de nossos problemas, anabolizados pela polarização política, poderia sumir do mapa com uma dose maciça de comportamento respeitoso e polido, que seria injetada em todos os membros de nossa sociedade.