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Lições para amadurecer melhor – parte 1

Uma frase frequentemente atribuída ao escritor Mark Twain traz um ensinamento precioso a quem tem um número baixo de R.G. em sua carteira de identidade: “Age is an issue of mind over matter; if you don’t mind, It doesn’t matter”. Em português, o trocadilho original fica perdido: “Idade (avançada) é uma questão de mente sobre a matéria. Se você não se importa, não tem relevância”. A sabedoria contida nesta sentença precisa ser absorvida por quem passou da marca dos cinquenta anos de idade, como eu, e se aproxima dos sessenta.

Quando era criança, nos anos 1970, completar seis dezenas significava chegar ao final da linha. Na virada daquela década, a expectativa de vida no Brasil era de 57 anos. Portanto, quem ultrapassasse a barreira dos sessenta já estava no lucro. As pessoas se sentiam velhas por antecipação e se comportavam como tal.

Outro dia, vi uma fotografia de meu pai com 42 anos. Ele parecia mais velho que eu em minha idade atual. Certamente, isso ocorria por conta da mentalidade daquela década – hoje, com 87 anos (prestes a completar 88), muita gente acha que ele nasceu no mínimo dez anos depois da data que está registrada em sua certidão de nascimento.

O fato é que tivemos um avanço enorme na ciência e isso possibilitou uma existência mais longa, com índices mais altos de saúde e qualidade de vida. Mas essa mudança tem também muito a ver com a mentalidade mais jovem dos chamados baby boomers e dos integrantes da Geração X.

Essa sensação de juventude acarreta dois fenômenos opostos. De um lado, há pessoas que ficam tentando esticar a mocidade do corpo ao extremo. Assim, há coroas (de ambos os sexos) malhadíssimos e enxutos – ou aqueles que abusam dos procedimentos estéticos para tornar a aparência mais conservada (nada contra). Mas, ao mesmo tempo, temos pessoas que deixaram, desde a pandemia, em 2020, de pintar seus cabelos.

Ou seja, para muita gente não existe mais o medo de se apresentar como alguém muito experiente. Para isso, é preciso de autoconfiança e de uma ousadia que a geração de nossos pais não conseguiu desenvolver. Mas, principalmente, isso ocorre em pessoas que conservam a juventude intacta dentro de suas almas.

Recentemente, vi nas redes sociais um vídeo que continha uma entrevista da inesquecível Hebe Camargo, talvez um de nossos maiores símbolos de juventude eterna. Ele morreu em 2012, aos 83 anos, vítima de uma parada cardíaca durante o sono. E, um bom tempo antes de seu falecimento, deu a declaração que está circulando nesta semana pelo mundo digital. “A vida passa muito rápido e eu não sei mais quanto tempo estarei por aqui”, disse ela. “Por isso, eu decidi que vou procurar ser feliz. Não quero mais ficar me aborrecendo à toa”.

Muitos de minha geração consideravam Hebe uma mulher alienada e talvez essa declaração possa reforçar essa impressão. Confesso que, durante anos, tive esse mesmo palpite. Mas, em 2005, tive a oportunidade de conhecê-la na festa de aniversário de um amigo e nos cruzávamos com frequência em um restaurante de São Paulo. Posso afirmar, por conta disso, que ela não tinha nada de desmiolada. Era uma pessoa conservadora do ponto de vista político, mas vivia se engalfinhando com a censura durante o governo militar. Além disso, tinha o hábito de criticar os políticos em seu programa – em uma dessas ocasiões, o deputado Ulysses Guimarães, presidente da Câmara, decidiu convocar uma rede nacional de TV apenas para responder aos ataques da apresentadora.

Seguir integralmente o conselho de Hebe, por um lado, pode levar a uma vida que evita assuntos que trazem dores de cabeça, mas são necessários à nossa existência, como a política. Mas, por outro, se entendermos o espírito da mensagem que ela queria passar, podemos fugir de irritações desnecessárias e escolher melhor nossas batalhas.

Quando avaliamos a nossa trajetória após os cinquenta anos de idade e percebemos que temos mais passado do que futuro, chegamos à conclusão de que é preciso fazer escolhas cada vez mais cirúrgicas. E escolher aquele caminho que nos deixa mais felizes. Em alguns casos, é o do confronto, da discussão e do desentendimento (há pessoas que se sentem energizadas com o conflito). De meu lado, percebo que estou optando cada vez mais pela trilha da troca de ideias, mas não a da briga. Gostaria de extirpar totalmente os desentendimentos do meu cotidiano – mas isso é impossível. Portanto, é melhor respirar fundo e avaliar com parcimônia suas contendas. Cada vez mais, me sinto como Hebe Camargo. Mas, nem de perto, terei a capacidade de transmitir alegria que ela teve. Mas, sem dúvida, começo a sentir um pouco da leveza que ela experimentou.

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