Li, nesta semana, um artigo no qual o autor se queixava de um amigo de meia-idade que resolveu se vestir como se fosse jovem. A chamada de primeira página do jornal não deixava dúvida quanto à irritação do articulista: “Vamos insistir nessa palhaçada de parecer mais jovens?”.
Finda a leitura, levantei-me e fui até ao espelho da sala, para examinar a minha indumentária: mocassim de camurça, calça jeans, camisa polo e um agasalho esportivo. Estaria eu querendo me passar por alguém mais novo? Abri o Instagram e passei a observar como os amigos da minha idade se vestiam. Tirando uma ou outra roupa mais colorida, todos usam o mesmo estilo: casual sem grandes exageros.
Fiz um rápido passeio pela memória e me lembrei das roupas que meu pai usava quando tinha a minha idade (bem parecidas com as que ele usa hoje, aos 91 anos). Comparando com o estilo da geração anterior, talvez eu me vista de uma forma jovial.
Encafifado, fiz outra pesquisa e passei a observar como se vestiam os trintões que eu conheço. Bingo! As roupas são quase idênticas. Vi até um sapatênis igual ao meu. Há, porém, uma diferença crucial: muitos deles gostam de usar calças sociais um tanto curtas (que minha mãe chamaria de “pula-brejo”). Eu dificilmente vestiria algo do gênero.
De qualquer forma, em termos de estilo, minha geração parece estar mais próxima da juventude do que a dos nossos pais. Mas será que essa jovialidade tem a ver apenas com indumentárias moderninhas? Ou será que pensamos de uma forma mais parecida com a da mocidade?
Olho para o lado e vejo muitos amigos que passaram dos cinquenta anos de idade sem ostentar o peso das décadas. Combinando sabedoria e leveza. Mas há outros que sentiram o vinco de cada ruga e de cada cabelo branco. No frigir dos ovos, contudo, a minha geração parece ser mais sintonizada com a modernidade que a anterior.
Vejo o entusiasmo com o qual vários amigos se jogam em direção à inteligência artificial. Será que, trinta anos atrás, os mais maduros ficaram tão entusiasmados assim com o surgimento da internet? Talvez não.
Mas os contemporâneos de meus pais tiveram infância e adolescência como a de seus genitores, talvez desfrutando um pouco de rebeldia controlada durante o surgimento de Elvis Presley e do rock’n’roll. A geração X (e o final dos baby boomers), entretanto, foi a primeira que cresceu totalmente influenciada pela cultura pop. Crescemos ouvindo uma música que hoje é considerada barulhenta e assistindo produções de qualidade discutível na televisão aberta. Talvez essa exposição à indústria cultural dos anos 1970, 1980 e 1990 tenha nos moldado de uma forma diferente. Daí uma jovialidade que insiste em se manter apesar dos cabelos esbranquiçados.
Trata-se de uma heresia querer esticar a juventude? Pode ser. Mas a maturidade traz um enorme benefício: o de não ligar para o que os outros dizem ou fazem. Se um amigo quiser se vestir igual ao seu filho, que seja feliz. E se um colega quiser falar mal, que fale. Em ambos os casos, não tenho nada a dizer. Vamos deixar cada um ser contente e realizado a seu modo.
Uma resposta
Pessoas seguras de si nao se preocupam com o q os outros dizem, e suficiente o q o espelho diz….mas essa teoria nao vale para homens casados c esposas q discordam .