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Bill Gates e outros receberam ajuda da família. Isso diminui o mérito de um empreendedor?

Quando estava no terceiro ano da faculdade, comecei a procurar um estágio em jornalismo. Fiz algumas buscas infrutíferas por conta própria e, frustrado, conversei com meu pai sobre a difícil missão de começar a vida profissional. Ele sabia do meu interesse em economia e me perguntou o que eu achava de estagiar na Gazeta Mercantil. Achei ótima a sugestão e perguntei como isso seria possível.

Acontece que meu pai tinha um grande amigo trabalhando lá, um jornalista chamado Garibaldi Octávio. Uma grande figura, que nos deixou em 2013. Gari também se dedicava à poesia, mas manteve sua obra inédita por muito tempo. Por que não publicar poemas tão bem construídos e sensíveis? Ele sempre respondia que deixava seus escritos guardados na “gaveta da insegurança” e, por isso, preferia o ineditismo.

Bem, marquei um horário com Gari. Soube, então, que só abririam vagas de estágio daqui a alguns meses, mas eu receberia uma recomendação vinda dele. Realmente, quatro meses depois, fui chamado para uma reunião com o editor-chefe, um espanhol chamado Matías Molina. Muito agitado, Molina me entrevistou de forma incisiva e saí de lá achando que não tinha agradado muito.

Porém, duas semanas depois, fui chamado de volta para uma rodada de conversas com dois editores. E ganhei o estágio. Ou seja, não fosse a interferência de minha família, talvez minha carreira tivesse sido completamente diferente.

Isso tira o mérito do meu trabalho ou das minhas conquistas profissionais durante uma carreira de três décadas? Prefiro acreditar que não.

A narrativa acima me veio à cabeça ao ver um meme que circula nas redes sociais sobre Bill Gates (imagem), Jeff Bezos, Warren Buffet e Elon Musk. Em comum, os homens mais ricos do planeta teriam começado seus empreendimentos com uma ajuda de suas famílias ricas. O título do meme é: How “self-made” billionaires got their start (“Como os bilionários ‘que se fizeram sozinhos’ começaram”.

As aspas usadas no título já colocam em dúvida a capacidade desses empreendedores. E insinuam que, sem a mãozinha de familiares, esses ricaços não estariam nas posições que ocupam hoje (Musk, porém, nega que tenha usado o dinheiro do pai – vindo de uma mina de esmeraldas na África do Sul – para ter uma educação de primeira linha; ele afirma que saiu de casa aos 17 anos, apenas com uma mochila nas costas, e imigrou ao Canadá, estudando em uma boa universidade através de um empréstimo educacional).

Estamos falando das quatro maiores fortunas do planeta. Esses quatro indivíduos chegaram ao Olimpo empresarial apenas porque a família mexeu os pauzinhos ou emprestou dinheiro? É claro que não. Ninguém obtém esse tipo de sucesso apenas por conta de um empurrão inicial.

O sucesso empresarial pouco tem a ver com a maneira pela qual as companhias são fundadas. São inúmeras as iniciativas que nascem com os cofres cheios. Várias delas fracassam fragorosamente. Outras tantas são iniciadas apenas com a cara e a coragem, mas florescem.

Ser bem-sucedido no mundo dos negócios é algo que não pode ser definido em uma fórmula simples. Caso contrário, teríamos um mundo povoado de bilionários. Mas há três fatores importantes no caso dos quatro bilionários do meme. Bill Gates, Jeff Bezos, Warren Buffett e Elon Musk tiveram visões inéditas quando começaram seus negócios. Entenderam melhor que os outros as necessidades do mercado e perseveraram na construção de seus negócios.

A resiliência deste quarteto é mais importante do que a ajuda que eles possam ter recebido no início de suas atividades. Mas, infelizmente, ainda vivemos em um mundo no qual os empresários são criticados pelo tamanho de sua riqueza (é sempre bom lembrar que Gates e Buffett doaram a maior parte de suas fortunas para instituições de caridade, através da iniciativa The Giving Pledge) e precisam se desculpar por seu sucesso.

Existem pessoas que gostam de tripudiar do empresariado, repetindo a máxima de Honoré de Balzac (“Atras de toda fortuna existe um crime”). Não que todos os empresários sejam pessoas incríveis, justas e sensatas. Pelo contrário. São seres humanos e, por isso, estão sujeitos a qualidades e imperfeições. Mas é inegável que esses empresários geram a riqueza através das quais as nações são construídas. Os empreendimentos criam empregos, renda e pagamento de impostos. Sem os empreendedores, onde estaríamos?

Por isso, é irrelevante se quatro dos principais bilionários de hoje receberam ajuda de suas famílias. Quantos herdeiros torram o dinheiro de seus pais com iniciativas empresariais estapafúrdias? Ou simplesmente gastam a fortuna construída pelos antepassados com frivolidades? São incontáveis os exemplos existentes entre os clãs endinheirados.

Um estudo do professor John Davies, do MIT, mostra que as fortunas de famílias que venderam suas empresas vão derretendo ao longo dos anos se não houver uma fonte de receita vinda de algum negócio. Assim, as famílias mais ricas dos Estados Unidos de meados do século passado que se mantiveram nos rankings dos bilionários são aquelas que conservaram suas ações, estando ou não à frente das companhias que controlam.

Ser empresário é ter seu espírito alimentado por uma paixão infinita pelo negócio e uma disposição gigantesca para resistir às dificuldades, além de ser empurrado pelo otimismo o tempo todo. Não é uma vida para a maioria das pessoas. Mesmo assim, precisamos celebrar o empreendedorismo e estimular esse fenômeno em nosso país.

Não se pode resolver todos os problemas do Brasil apenas fomentando a livre iniciativa e os pequenos negócios, é verdade. Mas o empreendedorismo promove a mobilidade social e gera de riquezas. Não é a solução final para nossos desafios. Mas já é um começo.

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