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A guerra vista por quem entende do assunto

O documentário “Sob a Névoa da Guerra” mostra as lições que Robert McNamara aprendeu nos sete anos em que foi secretário de Defesa de Kennedy e Johnson

Em tempos de guerra, as pessoas começam a se informar mais sobre esse tema. Um dos primeiros efeitos é o aumento de buscas sobre conflitos armados em ferramentas de busca como o Google, bem como o interesse sobre detalhes específicos em relação à Rússia e à Ucrânia. Este fenômeno chegou, neste final de semana, à lista de filmes mais alugados e/ou comprados na Apple TV. Entre os mais baixados, está o documentário “Sob a Névoa da Guerra”, de 2003, que conta os sete anos em que Robert McNamara (imagem) foi secretário de Defesa dos Estados Unidos e responsável pela atuação das Forças Armadas durante a Guerra do Vietnã – e, em especial, durante a crise dos mísseis em Cuba, no ano de 1962.

São conflitos que, em tese, nada têm a ver com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Mas, no Vietnã, tínhamos uma força invasora (os Estados Unidos) atacando um país soberano (Vietnã do Norte), especialmente após 1965 (antes, o conflito estava mais concentrado no Sul). No caso da crise gerada pelos mísseis soviéticos em Cuba, pairava sempre a ameaça de um embate nuclear, como agora.

Neste documentário, é possível saber que McNamara, na época presidente da Ford, tinha um patrimônio próximo a US$ 1 milhão e ganhava uma fábula no setor privado. Trocou isso por um salário de US$ 25 000 anuais e se tornou uma das figuras mais importantes do governo. Na reunião em que foi convidado, disse ao presidente John Kennedy que não estava preparado para o cargo. JFK retrucou que não havia uma escola para ensinar presidentes – e que ambos iriam aprender o que fazer em seus respectivos cargos. Após a morte de Kennedy, Lyndon Johnson o manteve na posição até o início de 1968.

Lições de McNamara

Trata-se de uma experiência inestimável. Com base nesta vivência, ele apresenta onze lições que aprendeu ao longo dos sete anos em que esteve à frente de sua pasta. Dessas, destaco três:

+ Tenha empatia com seu inimigo: aqui, a lição tem a ver com a crise em Cuba. Os EUA receberam duas mensagens quando declararam bloqueio à ilha de Fidel Castro. Um, vinda diretamente do premiê Nikita Kruschev, de caráter informal e conteúdo suave (dizia que se os Estados Unidos garantissem não invadir Cuba, os mísseis seriam retirados de lá). A segunda, mais dura, vinha do Comando Militar soviético e era ameaçadora. Os militares americanos, com o general Curtis LeMay (chefe do Estado Maior da Força Aérea) à frente, queriam uma batalha e estavam dispostos a usar armamentos nucleares. Porém, o ex-embaixador dos EUA em Moscou, Llewellyn Thompson, conhecia Kruschev e disse que o premiê iria dizer aos seus generais que havia impedido uma invasão dos Estados Unidos em seu satélite caribenho caso houvesse um acordo. Essa versão ganhou dentro do governo e Kennedy não declarou guerra ou invadiu Cuba, evitando uma catástrofe nuclear.

+ A racionalidade por si só não nos salvará: McNamara afirma que chefes de Estado podem levar suas nações à guerra agindo apenas de forma racional. Havia uma série de informações desconhecidas por Kennedy e sua equipe e – em um determinado momento – a invasão de Cuba, utilizando poderio militar maciço parecia ser a decisão mais correta a tomar. No final, porém, o presidente confiou no julgamento de seu ex-embaixador e tomou atitude correta. Um lance, segundo o ex-secretário de Defesa, baseado em “pura sorte”.

+ Crença e visão estão frequentemente erradas: McNamara diz que “nós vemos o que queremos acreditar”. Isso criou um incidente militar no Golfo de Tonkin, empurrando os EUA ainda mais à Guerra do Vietnã. E, no caso dos mísseis, quase produziu uma verdadeira aniquilação nuclear nos Estados Unidos. A CIA havia levantado que os mísseis instalados por Fidel Castro não tinham ogivas nucleares. Mas, anos depois, ao conversar com Fidel, McNamara soube que Cuba disponha, na época, de 162 ogivas. Na visão dele, os espiões americanos viram o que queriam enxergar.

Na invasão da Ucrânia

Como isso pode ajudar a análise do atual conflito?

Os estrategistas da OTAN e dos Estados Unidos precisam entender melhor o que se passa na cabeça de Vladimir Putin e usar este conhecimento em seu favor. Por enquanto, o Ocidente parece estar a reboque da Rússia, reagindo aos movimentos do agressor. Foi feito um grande movimento de sufocamento econômico, é verdade, mas espera-se que os russos encontrem saídas para o bloqueio brutal. Como disse McNamara, não podemos confiar apenas na racionalidade dos comandantes militares da Rússia. É preciso antecipar também os movimentos não racionais e encontrar soluções para eventuais decisões estapafúrdias tomadas pelo inimigo. Por fim, é necessário fazer uma dupla checagem em relação às informações levantadas pela inteligência americana ou pela espionagem europeia – e não se deixar levar por aquilo em que se quer acreditar.

McNamara viu, sob o governo de Johnson, o crescimento avassalador da força bélica americana dentro do Vietnã. Mas, nos últimos meses em que esteve na administração pública, tornou-se um dos maiores críticos da Guerra – e acabou sendo afastado por isso. Ele admite que cometeu vários erros durante sua gestão e que, por tal razão, houve um número de mortes bem maior que o necessário (se é que se pode calcular esse tipo de coisa) no Vietnã. Mas ele afirma que os governantes que viessem a seguir poderiam aprender com essa experiência e não repetir os mesmos enganos. É por conta destas lições que esse filme, dirigido por Errol Morris e vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2003, não envelheceu e precisa ser assistido por todos que acompanham o conflito na Ucrânia com grande preocupação.

Capa do livro baseado no documentário “The Fog of War”, dirigido por Errol Morris, de 2003

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