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Ironia: uma ideia socialista ressuscitou a direita no Brasil

Já falamos sobre o aniversário de dez anos dos movimentos de 2013 por aqui. Mas precisamos revisitar esse assunto. O motivo? A constatação de que uma ideia de cunho socialista foi o estopim para o ressurgimento da direita no Brasil.

Vínhamos em uma toada na qual os principais adversários do PT eram os tucanos – e o PSDB, naquela época, poderia representar uma espécie de esquerda light, mais sintonizada com a social-democracia europeia. Ainda pegava mal se definir publicamente como direitista. Um exemplo disso era o ex-ministro Delfim Netto, um dos símbolos do Milagre Econômico do governo militar. Ele, alguns anos atrás, se dizia centrista.

Foi neste contexto que surgiu o MPL (Movimento Passe Livre), autor do primeiro protesto que ganhou as ruas em São Paulo e deu o pontapé inicial que deu origem a várias manifestações que se repetiriam em 2014, 2015 e 2016, culminando com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

O que desejava o MPL? Protestar contra o aumento das passagens de ônibus e lutar pelo transporte público gratuito na cidade São Paulo. Trata-se, na prática, de uma medida populista e que tem origens socialistas. Afinal, a única forma que faria um conceito desses é o subsídio integral da prefeitura, usando dinheiro público para oferecer transporte de graça.

Vejamos o que diz o site da entidade. Ela quer “a transformação da atual concepção de transporte coletivo urbano, rechaçando a concepção mercadológica de transporte e abrindo a luta por um transporte público, gratuito e de qualidade, como direito para o conjunto da sociedade; por um transporte coletivo fora da iniciativa privada, sob controle público (dos trabalhadores e usuários). O MPL deve ter como perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população”.

Trata-se de uma proposta à esquerda mesmo do ideário do PSOL. O partido de Guilherme Boulos também prega a tese da tarifa zero, custeada pelas autoridades, mas restringe o benefício apenas a desempregados e estudantes.

Após esse primeiro protesto em 2013, seguiram-se outros – e foi exatamente na rabeira desses movimentos populares que os manifestantes de direita começaram a se expor, criticando o governo do PT. Com a Operação Lava-Jato, esse movimento ganhou ainda mais corpo e trouxe para a rua muita gente que viria a pedir o impedimento de Dilma.

A ironia que cerca esse episódio é comum no Brasil.

O maior programa de privatizações já feito em terras nacionais ocorreu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC nunca foi um liberal, pelo contrário. Sociólogo de formação e admirador das ideias de Jean-Paul Sartre (que defendeu o Comunismo até 1956, quando a antiga União Soviética invadiu a Hungria, depois de uma revolta contra o regime de Moscou), Fernando Henrique autorizou a privatização de oitenta estatais e introduziu a lei de responsabilidade fiscal, até então a primeira forma de controle para os gastos públicos no país.

Outro exemplo foi o impeachment de Dilma, bastante motivado pela Operação Lava-Jato. O principal articulador do processo que retirou os petistas do poder, metidos em vários processos de corrupção, foi o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ele perderia seu mandato e seria preso mais tarde. A acusação? Recebimento de propinas valor de US$ 5 milhões.

Esses dois casos fazem a origem socialista dos protestos que ressuscitaram a direita parecer uma historinha infantil. Mas esse é o Brasil. Contraditório e burlesco, nosso país é capaz de surpreender até os mais céticos. Mas precisamos colocá-lo de volta aos trilhos. Mesmo que, para isso, soframos um pouco.

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