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Há alguma diferença entre os blogs de esquerda e os de direita?

Nos jornais de hoje, há uma polêmica envolvendo um determinado blog que defende o governo Jair Bolsonaro. Este site, até pouco tempo atrás, veiculava anúncios de várias empresas através de um mecanismo de Google que coloca banners rotativos em seus espaços destinados à publicidade. Trata-se de uma engenhoca simples: em vez de comprar espaço publicitário no varejo, os anunciantes procuram o Google e adquirem o direito de, através da ferramenta, estar presentes em inúmeros sites do país. Assim, pelo Google, anunciavam neste portal de notícias o Banco do Brasil e empresas como Dell e Submarino. As veiculações, contudo, foram canceladas.

Depois de reclamações – pois o site em questão disseminaria fake news – os anunciantes solicitaram ao Google que bloqueasse suas inserções publicitárias. O portal reclamou, através de suas páginas, e botou a culpa na militância de esquerda, solicitando boicote de quem cancelou os anúncios.

Este caso passaria totalmente batido não fosse a entrada de dois personagens na ribalta: o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, e o titular da Secom, Fábio Wajgarten. Carlos bronqueou com a atitude do Banco do Brasil e afirmou que a instituição “pisoteia em mídia alternativa”. Wajgarten, por sua vez, usou as redes sociais para responder a um tuíte de um internauta que criticava o cancelamento dos anúncios e disse que estava “contornando a situação”.

Em relação ao uso do dinheiro público na publicidade do site acusado de propagar fake news, há uma diferença crucial em relação aos blogs de esquerda que apoiavam o governo Dilma Rousseff: a Secom coloca o dinheiro no Google, que distribui a publicação em milhares de páginas. Não houve um investimento direto, pelo menos aparentemente, naquele portal de notícias com viés conservador.

As diferenças entre esses sites conservadores e os que apoiavam o Partido dos Trabalhadores, porém, terminam por aqui. Há evidentes exceções, é claro, mas a regra comum é defender o seu lado a qualquer preço. Não importam os fatos, causas e consequências. A única missão é proteger o governo. Era assim com Dilma e é assim com Jair Bolsonaro. Apenas o sinal está trocado (e o envolvimento de dinheiro estatal também é diferente, ressalte-se).

Muito se fala sobre a imparcialidade do jornalismo (e, neste tipo de publicação, seja de direita ou de esquerda, neutralidade simplesmente não existe). Uma das regras básicas de quem escreve sobre os fatos e quer entregar uma análise dos acontecimentos é primeiro observar, depois ponderar e só então concluir. Esse é um método pueril e simplista – mas nos leva a conclusões menos enviesadas.

Os blogs ideológicos, no entanto, já sabem qual será sua conclusão no exato momento em que surge o fato. A partir dessa opinião é que se constrói uma linha retroativa de argumentação, numa narrativa contaminada pelo posicionamento político. Um mesmo fato, assim, pode ser interpretado de formas completamente diferentes. Isso ocorria muito durante o impeachment de Dilma ou nas eleições de 2018.

No caso específico do portal denunciado por notícias falsas, a verba da Secom não está diretamente envolvida. Mas trouxe à tona algo inédito: o secretário de comunicação do governo entrou em campo para, em suas próprias palavras, contornar a situação.

A denúncia de fake news partiu de um perfil de Twitter chamado Sleeping Giants, do qual não se tem muitas informações, mas seria uma sucursal de uma iniciativa americana, cuja missão é promover o boicote de anúncios em sites conservadores. Sobre o Sleeping Giants, Wajgarten disse que o perfil “precisa urgentemente deixar o viés ideológico de lado na hora de fazer suas supostas denúncias”.

O ocupante da Secom tem um discurso já conhecido: o viés ideológico só existe quando suas atitudes são contestadas. Neste universo paralelo, as críticas só poderiam vir de militantes esquerdistas. O mundo, entretanto, não se divide em preto e branco. Aqueles que estão no espectro ideológico de direita igualmente têm críticas a fazer.

A direita se baseia principalmente na defesa das liberdades individuais. A livre iniciativa, diga-se, decorre principalmente desta ideia inicial. Ao acreditar que todos os conservadores estão automaticamente ao seu lado, o secretário ou se considera infalível ou pensa que a direita age em bloco, exatamente como a esquerda faz. Não poderia haver avaliação mais fantasiosa. Conservadores também podem julgar negativamente o governo – especialmente em relação à comunicação do Planalto (vale um disclaimer aqui: MONEY REPORT nunca recebeu um tostão do governo desde sua fundação e sequer é registrado na Secom).

Agir de forma ideológica é relativizar os problemas e empoderar as qualidades daqueles que são defendidos. Ontem, houve uma discussão nas redes sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, no meio de uma “live” manifestou-se de forma imprópria. Ele disse: “Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus, porque esse monstro está permitindo que os cegos enxerguem, que os cegos comecem a enxergar, que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”.

Ao publicar minhas críticas sobre essa barbaridade proferida pelo ex-presidente (que pediu desculpas ontem mesmo), recebi uma resposta através das redes sociais que dizia ter sido “apenas uma frase infeliz”. Pergunto: e a insanidade tivesse sido dita por Bolsonaro? Provavelmente essa mesma pessoa estaria vociferando até agora.

É assim que a ideologia na comunicação funciona: distorce a realidade de uma forma perniciosa. Tanto para um lado como para o outro. É preciso ser técnico e perseguir a ponderação. Não é algo fácil, muito pelo contrário. Mas é o único caminho que pode levar à justiça na hora de relatar os acontecimentos.

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