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A esquerda e o discurso estagnado no Século 19

O Manifesto Comunista, de Karl Marx e de Friedrich Engels, foi publicado em 1948. O livro “O Capital”, do próprio Marx, chegou ao público em 1867. Essas duas obras foram escritas sob o impacto da primeira fase da Revolução Industrial, que se encerra no final da primeira metade do Século 19. Trata-se do período em que a doutrina marxista chama de “capitalismo selvagem”. Empresários sem escrúpulos eram desumanos e faziam de tudo para engordar seus lucros, incluindo a contratação de crianças para trabalhar em turnos extensos, com o propósito de pagar salários menores aos operários.

Naquela época, as fábricas se proliferaram na Grã-Bretanha e na Europa de forma frenética. A produção escoava rapidamente e a tecnologia, ancorada nas máquinas a vapor, evoluía a passos largos. Novas máquinas, mais eficazes, surgiam a cada momento, reduzindo custos e elevando a escala de fabricação nas empresas. Os industriais, nesse momento, faziam de tudo para ganhar dinheiro – e se transformaram em uma espécie de personificação do mal.

O risco, neste mercado crescente, era muito pequeno e vendia-se praticamente tudo o que se produzia. As ideias de Marx surgem exatamente nesse contexto. E ficaram estagnadas por mais de cento e cinquenta anos.

De lá para cá, no entanto, o capitalismo mudou e se reinventou algumas vezes. Mas um fator importantíssimo surgiu nesse meio tempo: a formação de uma forte sociedade de consumo. Neste cenário, que nos acompanha até hoje, o risco passou a ser um fator importante dentro da economia dos países. Afinal, muitas empresas são abertas e fechadas logo em seguida (no Brasil, 50 % dos empreendimentos fecham dois anos depois de inaugurados e um total de 60 % fecham as portas após quatro anos).

Além disso, quem passou a comandar o jogo foi o próprio consumidor. Ele é quem decide se um produto é bom ou não e qual é o preço justo para comprá-lo. Grandes corporações se curvam à vontade de quem compra suas mercadorias, muitas vezes modificando detalhes importantes para se manter no jogo.

Além disso, testemunhamos a criação de um novo mercado – o de serviços, que agregou outro tipo de dinâmica à economia e é uma parte importantíssima na geração de riquezas para qualquer país.

A gestão financeira se sofisticou, assim como a gestão de estoques e a logística para entregar mercadorias e localizar novos mercados. Uma empresa nos dias de hoje, da menor à maior, é completamente diferente daquela que existia no Século 19.

Os conceitos de remuneração também mudaram. Muitas empresas, especialmente as startups e os grandes conglomerados, têm programas de participação nos lucros, que atingem inclusive o chamado chão de fábrica.

Quando falamos em conceitos marxistas como a mais-valia, é preciso contrapor o risco que todo o empreendedor está correndo, trabalhando diuturnamente e se sacrificando para colocar uma iniciativa de pé. A teoria de Marx estimula o desdém e o escárnio ao empresário, que é justamente a força motriz na formação da riqueza de um país. Ele ganha mais que um trabalhador? Sim. Mas ele corre riscos e dedica 110% de sua vida ao seu negócio. Se uma empresa quebrar, os trabalhadores vão procurar emprego em outro lugar; o dono do empreendimento, porém, vai perder tudo o que tem e vai ter de se virar para pagar as dívidas.

Por isso, quando vemos discursos na reunião do G-20, que criticam os chamados super-ricos e exaltam a necessidade de uma taxação global de fortunas, podemos chegar a uma conclusão: a de que a imagem que Marx ajudou a construir ainda está viva na memória de muitas pessoas.

O que seria melhor? Taxar os bilionários para colocar dinheiro em programas sociais que serão tragados pela burocracia ou coisa pior? Ou deixar esse dinheiro livre para criar novas iniciativas e gerar novos empregos e novas riquezas?

Mais uma vez, os políticos pensam em distribuir peixes quando deveriam ensinar a pescar.

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Comentários

Respostas de 3

  1. A revolução industrial como processo inovador da participação das massas no sistema capitalista, foi a maior mudança, de fato. No itinerário do dinheiro. Mas, também diferenciou profundamente o seu valor. Simplificando: criou castas sociais, como na Índia. E ampliou as diferenças entre os grupos humanos. Historicamente haviam: a realeza, e a plebe. Os senhores, que: por exemplo, no império romano, e os ímpios, gentios, bárbaros ou escravos. Aqueles que eram derrotados na guerra e feitos escravos para servirem aos patrícios, aqueles que possuíam bens e contribuíam com pagamentos de impostos.
    Nos tempos atuais, essas profundas valas divisórias se diversificar, criando muito mais divisões e diferentes classificações, Dentro do extrato social.
    Formou-se então em cada diferente posição que era mais uniforme uma plêiade de possibilidades. Os mega empresários. Os gigantes do setor, os sócios do BNDES…e assim por diante. No polo oposto. Os líderes de fábrica, os gerentes e vice-presidentes corporativos, etc. Numa vala abaixo: os componentes do “chão de fábrica”, que ralam no pesado e sacolejam nos coletivos trens e ônibus, por oras a fio, até chegarem nas periferias onde “se escondem para pouco depois de um breve estertor voltarem para a labuta diária, ininterruptamente cansativa e exaustiva.
    Onde foi que esse novo capitalismo modificou alguma coisa? Nas filas do INSS, do bolsa família ou do SUS.
    Ou foi, opostamente!: no Albert Einstein, no sírio libanês e nos andares: de onde os jatinhos partem para o Caribe, Orlando, ilhas gregas, etc.
    Nesse breve contexto, acabamos de criar no Brasil, o maior fosso econômico do planeta, e maior distância entre os mais ricos, que são poucos, e os mais pobres, que são milhões.
    Uma nova pesquisa, atualíssima, chegou à seguinte conclusão: os, um por cento, da população detém quase a metade, precisamente 43%, de toda a riqueza existente e os outros 99% ficam com o restante. Sendo que embaixo uma multidão de miseráveis, famélicos, se misturam, literalmente com os dejetos de todo tipo de lixo e com os animais abandonados e os oriundos das consideradas pragas urbanas.

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