Ouvi falar pela primeira vez do tal bebê reborn quando minha filha era criança e me pediu um boneco desses. Fiquei impressionado com a semelhança grotesca com um infante de verdade, mas quando vi o preço do brinquedo quase tive um troço – e passei um ano e tanto inventando desculpas e evasivas à pequena. Nunca mais pensei nessa esquisitice até recentemente, quando soube que havia milhares de pessoas que tinham adotado esses brinquedos e os tratam como se fossem crianças de verdade.
Essa bizarrice se une a outros dois comportamentos amalucados que algumas pessoas cultivam nos dias de hoje. A primeira é desabafar e contar seus problemas às ferramentas de inteligência artificial, como se fossem amigos de carne e osso.
Pessoas da minha família já fizeram isso, assim como pessoas do meu círculo de amizades. Fico imaginando: o que motiva alguém a conversar com um programa de computador? Fiz essa pergunta a meu parente. A resposta: eu ficaria envergonhado de falar sobre o assunto com algum conhecido ou pessoa de verdade. O mais interessante, nessa história, é que os conselhos feitos pela IA foram razoáveis e adotados parcialmente.
Podem me chamar de antiquado, mas ainda acredito que uma boa conversa com pessoas próximas – ou com um analista – pode trazer resultados bem melhores que os de um software. Pessoas podem entender e ter empatia sobre sentimentos, algo que as máquinas (ainda) não conseguem fazer. Isso, para mim, é suficiente para preferir um ser humano como interlocutor.
Os dois casos – bebê reborn e proximidade excessiva com ferramentas de IA – parecem ser interconectados. Em primeiro lugar, o alvo da interação é um ser inanimado, que (em tese) não pode gerar reações inesperadas ou indesejáveis. Ambas as situações igualmente podem ter origem em traumas: pessoas que perderam ou não conseguiram ter seus bebês ou ainda aqueles que têm dificuldades fortíssimas de estabelecer elos de proximidades com outros indivíduos. O mesmo vale para quem tem dificuldades de desabafar com seus amigos (ou têm problemas para criar elos de amizade).
Por fim, temos ainda outro fenômeno, esse em frequência menor: o therianismo. Você já ouviu falar nisso? Os therians são pessoas que adotam comportamentos que imitam um animal específico. Usam fantasias para imitar um bicho em particular e passam a andar de quatro ou uivar, por exemplo. São pessoas. Mas se identificam como animais.
Procuro ter a mente aberta e tentar entender estes comportamentos. Mas, confesso, é algo difícil para mim. Vejo essas bizarrices se espalhando e me pego pensando: será que o fim do mundo está próximo?
Uma resposta
Pois é, caro Aluízio. Tua dificuldade, sempre foi a minha. E está se tornando cada vez maior. Apesar de eu, também, sempre ter tido a mente aberta, liberal, a favor das liberdades individuais, em todos os sentidos (por ex: quer cortar sua língua ao meio, pra parecer língua de lagarto? Colocar peças de silicone no corpo, pra tê-lo todo cheio de saliências, como se fosse a pele de jacaré? Colocar alargadores gigantes na orelha? Piercings “nas partes”? Problema de cada um. Cada um com suas escolhas). Mas, claro, estas coisas que citei, entre outras, sempre vi com reserva. Na real, na real, como aberrações. Não sou psicólogo, mas sempre achei que é alguma coisa que vai ALÉM do indivíduo que faz isso, “gostar”. Porém, essa coisa de levarem “bebês reborn” pra tomar vacina, levar ao médico pra fazer consulta, pra mim, só não é mais surpreendente do que pessoas rezando pra pneus, acreditando que a terra é plana. Já de há temos venho sendo dominado por uma idéia, que talvez, admito, também possa ser maluca. Qual? Não a de que “estamos perto do fim”, como vc conclui teu artigo. Mas a de que, efetivamente, “O MUNDO JÁ ACABOU”. São tantos os absurdos, descalabros, surrealismos, provas e exemplos da mais absoluta insanidade, que, só pode ser isso. Estamos vivendo ainda, apenas, um “gap”, um lapso de tempo, pra que, aí sim, as coisas acabem de vez.