Um dos pontos altos desta semana foi a palestra que assisti na PwC com o psicólogo Jonathan Haidt (imagem), professor da Stern School of Business da New York University e autor do livro “A Geração Ansiosa”. O texto de Haidt investiga o colapso mental das crianças e adolescentes da atualidade e seu conteúdo ancorou uma apresentação aqui no Brasil sobre esse mesmo tema.
Segundo o próprio autor, se pudéssemos resumir seu livro em uma só frase, seria a seguinte: nós estamos superprotegendo as crianças no mundo real e protegendo-as de menos no ambiente online. Ele usou como exemplo deste fenômeno um trecho da série da Netflix “Adolescência”, quando o pai do menino acusado de assassinato diz: “Eu pensava que ele estava seguro no quarto com seu computador”.
Romper o círculo vicioso que leva os jovens ao smartphone e, por consequência, às redes sociais é dificílimo. “Quem tem filho ainda na sua infância, provavelmente se lembra quando seu ele veio e disse: ‘eu preciso de um iPhone, ou eu preciso de um smartphone. Eu sou o único que não tem um, eu sou o único que não está no Snapchat, todos estão falando, eu estou sendo deixado de lado, eu estou excluído’ – e isso quebra nosso coração”, disse Haidt. Ele também apresentou um dado espantoso: “cerca de 40% das crianças de até 2 anos de idade nos Estados Unidos têm o seu próprio iPad”.
O que surgirá deste cenário? Pessoas com pouca habilidade para lidar com grupos e com dificuldades para estimular a criatividade. E por que essas seriam pessoas menos criativas? Porque já não existe tempo para a contemplação e meditação – características imprescindíveis, segundo o professor da NYU, para estimular os ímpetos criativos.
No livro “A hipótese da Felicidade”, Haidt desenvolve a seguinte tese: “Eu li todas as literaturas da sabedoria oriental e ocidental. O que os antigos nos disseram? Eles nos disseram: sejam mais lentos para julgar, sejam mais rápidos para perdoar. Essa é a sabedoria antiga. O que as mídias sociais nos disseram? Julgue agora, com nenhum contexto, porque se você não julgar, alguém vai te julgar por não julgar”.
O imediatismo e a necessidade por doses frequentes de dopamina devem moldar essa geração de maneira a torná-la diferente de tudo o que já acontece antes, até porque todo o nosso cenário terá de mudar por conta da inteligência artificial, que deverá tomar conta do futuro próximo. Os jovens de hoje, por conta disso, talvez sejam menos inteligentes do que aqueles que vieram antes. “É curioso: estamos emburrecendo justamente quando as máquinas estão aprendendo a ser mais inteligentes”, afirmou o professor.
Quando a sessão de perguntas e respostas foi aberta, sapequei-lhe uma questão: nós, pais, ensinamos por exemplo até quando não percebemos. O que eu vejo quando vamos aos restaurantes é que tem muitas famílias que não estão conversando com o outro porque estão olhando para o celular. Diante disso, como podemos ensinar os nossos filhos a largar esses aparelhinhos, se nós mesmos estamos viciados em consultar os celulares o tempo todo?
Resposta:
– Eu concordo que é sempre bom colocar um bom exemplo, mas eu gostaria de que você considerasse o que afeta a decisão de um 12 anos. Quem vão copiar? Se você adotar hábitos excelentes, sua filha vai dizer que seu pai tem hábitos bons, então eu vou adotar hábitos bons. Ou ela vai copiar o que seus amigos estão fazendo? Agora ela vai dizer para você, quando você diz, ‘coloque seu celular fora’, nós estamos na mesa de jantar. Não, você não pode levar seu celular para o quarto. Quando você diz isso, ela vai dizer para você, mas pai, você está sempre olhando o smartphone… Então, sim, devemos todos melhorar nosso exemplo, mas você sabe o que seria muito melhor? Não dê aos seus filhos um smartphone até os 14 anos, só deixem-nos entrar nas redes sociais aos 16 anos e proíbam os aparelhos nas escolas. Essas três coisas terão um impacto muito maior do que ensinar pelo exemplo.
São ideias ótimas. Mas alguém consegue não dar um celular a um filho de treze anos de idade?