Impacto das tarifas impostas pelos EUA também levou à revisão para baixo do crescimento global
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu nesta terça-feira (22) as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2% em 2025 e 2026 — um corte de 0,2 ponto percentual em relação às estimativas anteriores, divulgadas em janeiro.
Os números do FMI contrastam com as projeções mais otimistas do governo brasileiro: o Ministério da Fazenda estima crescimento de 2,3% em 2025 e 2,5% em 2026. Já o Banco Central prevê uma expansão de 1,9% neste ano.
Segundo analistas, o desempenho da economia brasileira no curto prazo deve ser sustentado por uma safra agrícola robusta, mas há expectativa de desaceleração gradual diante da inflação persistente e das elevadas taxas de juros.
O FMI também revisou para cima a previsão de inflação no país, estimando uma média de 5,3% em 2025 e 4,3% em 2026 — ambas acima da meta oficial de 3% ao ano, com margem de 1,5 ponto percentual.
Crescimento global sob pressão
As novas projeções do FMI refletem um cenário de maior incerteza global, impulsionado pelas recentes tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump. A economia global agora deve crescer 2,8% em 2025 e 3% em 2026, após cortes de 0,5 e 0,3 ponto percentual, respectivamente.
O fundo aponta as medidas protecionistas dos EUA e as retaliações internacionais como um “importante choque negativo ao crescimento”, com efeitos disseminados em diversas regiões. O Brasil, por exemplo, foi incluído na tarifa padrão norte-americana de 10%.
A América Latina e o Caribe também sofreram revisões: o crescimento projetado para 2025 caiu para 2%, e para 2026, para 2,4%, puxado por um corte significativo na estimativa do México — de expansão para retração de 0,3% em 2025.
EUA, China e outras economias também perdem fôlego
As previsões para as maiores economias do mundo foram igualmente impactadas. O FMI cortou a projeção do PIB dos EUA para 1,8% em 2025, com expectativa de inflação mais alta, estimada em 3%. A chance de recessão no país subiu de 25% para 37%.
Na China, as projeções foram reduzidas para 4% em 2025 e 2026, diante do impacto das tarifas sobre as exportações. O mesmo movimento foi visto em outras economias emergentes, que agora devem crescer 3,7% em 2025 e 3,9% em 2026 — cortes de 0,5 e 0,4 ponto percentual, respectivamente.
Nova era econômica
“Estamos entrando em uma nova era, à medida que o sistema econômico global que operou pelos últimos 80 anos está sendo redefinido”, afirmou o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas. Ele alertou para os riscos de novas tensões comerciais e destacou que a incerteza elevada e a volatilidade podem agravar ainda mais a desaceleração.
Apesar das turbulências, Gourinchas afirmou que não há, por ora, preocupações sobre a resiliência do sistema monetário internacional. Ainda assim, o FMI projeta crescimento global de médio prazo em apenas 3,2% — abaixo da média histórica de 3,7% registrada entre 2000 e 2019.